Carta Aberta aos Governantes
Pelos que ainda não sabem nadar, e pelos que já esqueceram como era aprender.
Senhores e Senhoras que decidem, escrevemos esta carta como quem lança uma garrafa ao mar, esperando que as ondas a levem até à vossa consciência.
A água é um bem público. Mas saber nadar ainda é, para muitos, um privilégio.
Num país onde há praias, rios, barragens e piscinas, ainda há crianças e adultos que nunca entraram na água com segurança, que temem o mergulho, que cresceram sem a oportunidade de aprender o que o seu corpo pode ser quando está leve, livre e líquido.
A aprendizagem da natação não é luxo. É educação básica, é saúde, é prevenção, é cidadania. É um direito de todos, não um capricho de alguns.
Cada euro investido em piscinas públicas acessíveis, programas de iniciação aquática e formação de professores é um euro que salva vidas, dignifica o corpo e constrói comunidades mais saudáveis e confiantes.
Não pedimos piscinas olímpicas em cada esquina. Pedimos políticas que entendam a natação como aquilo que ela realmente é: uma ferramenta de transformação social, emocional e humana.
Formar professores de natação é formar mediadores entre o medo e a liberdade. Apoiar esses profissionais é reconhecer que há pedagogias que não cabem numa sala de aula tradicional — mas que são tão importantes quanto as outras.
Este livro nasceu da água, mas dirige-se à terra. À vossa terra. Ao vosso dever de garantir que todas as crianças, independentemente da sua origem, possam flutuar. E descobrir-se.
Porque um corpo que sabe nadar, é um corpo que confia em si. E um povo que confia em si, sabe para onde vai.
Com esperança, urgência e respeito.
Jorge Ribeiro (Professor de natação)