Joaquim Martins
IDE SEM MEDO PARA SERVIR

O título é um dos desafios deixado pelo papa Francisco, aos jovens, nas jornadas mundiais da juventude do Rio de Janeiro. “Tendes o futuro, sois o futuro, sede protagonistas da mudança. Ide sem medo para servir”.
A lufada de ar fresco que a desconcertante simplicidade e clareza do Papa Francisco tem trazido à Igreja e ao mundo suscitará com certeza dúvidas e perplexidades a todos os que se preocupam com os rumos do mundo onde nos coube viver, sejam ou não crentes. A sabedoria do discernimento que tem revelado nas respostas às múltiplas questões com que tem sido confrontado, e, a coragem de certos gestos de rutura granjearam-lhe já o respeito e a admiração de muitos, quer dentro quer fora da Igreja Católica.
Tem um estilo e uma linguagem que incomodam e perturbam os instalados, os formalistas, os que se deixaram corromper pelo “pecado do carreirismo”. A sua conceção de Igreja “povo de Deus, a caminho na história, com alegria e dores” incomoda os que acham que a Igreja e os Cristãos não devem imiscuir-se na Politica e muito menos na política partidária. Ora essa conceção impõe que os Cristãos se envolvam: “é uma obrigação para um cristão- diz o papa - Temos que nos meter na política porque a política é uma das formas mais altas de caridade, pois procura o bem comum “e, “trabalhar para o Bem Comum é um dever para um Cristão”.
Um dever para qualquer homem de boa vontade acrescento eu, o que implica olhar o exercício da atividade politica, com outros olhos e com outro grau de exigência e de responsabilização. É assustador pensar na imagem ( tão negativa!) que os Portugueses têm da Política e dos Políticos. Conhecem-se algumas das razões que contribuíram para esse descrédito, nomeadamente a “falta de ética “ e a perda do sentido da honra que a PALAVRA DADA encerrava. Muitos sentiram-se manipulados e enganados. A descrença instalou-se pois algumas palavras – Verdade, Transparência, Diálogo - devido ao mau uso, perderam significado mobilizador. Urge reabilitá-las e transformá-las em bandeira. Urge reafirmar que a política é uma atividade nobre e insubstituível e que só a Política séria nos pode levar a ultrapassar a grave crise financeira que estamos a viver. Só ela pode permitir outros olhares.
Para o papa Francisco a “Crise é o resultado do capitalismo selvagem que impôs a lógica do lucro a qualquer preço. Sem atender às pessoas.”- e é fundamental que a “ ética chegue à economia e às finanças”.
A questão ética fica mais clara na estória narrada por um rabino do século XII, que o papa terá contado, e de que o professor Anselmo Borges recentemente se fez eco numa das suas luminosas crónicas no DN. A parábola pode resumir-se assim: Na construção da torre de Babel o material mais importante e que era preciso proteger era o tijolo. O seu fabrico exigia muito tempo e trabalho. Era preciso amassar o barro, juntar-lhe a palha, cozê-lo. Assim sendo, se na subida à torre, um operário deixasse cair a carga e partisse os tijolos era severamente punido. Se ele caísse e morresse ou ficasse estropiado nada acontecia. E o papa concluiu: “se os investimentos nos bancos caem é uma tragédia, mas se as pessoas morrem de fome, ou não tem nada para comer, nem têm saúde, não acontece nada. É a crise atual”.
Quem tem ouvidos para ouvir que oiça!
Num momento em que, com a renovação dos mandatos autárquicos, se inicia um novo ciclo politico é pertinente refletir na imagem dos políticos, nas exigências dos cargos públicos e nas responsabilidades quer dos políticos quer dos cidadãos. O dever de intervir na vida pública é de todos e não apenas daqueles que se propõem servir as comunidades. Curiosamente os dois pontos comuns, que todos os discursos, das diversas forças politicas referiram nas intervenções nos atos de posse que tiveram lugar esta 2ª feira foram a necessidade de UNIÃO e da DEFESA DO BEM COMUM. Parece que estamos no caminho certo.
Termino com as palavras do papa numa das favelas no Brasil “ a medida da grandeza de uma sociedade é determinada pela forma como trata quem está mais necessitado, quem não têm senão a sua pobreza” . Deus queira que a sociedade portuguesa e os poderes instituídos sejam sensíveis a esta mensagem. E que os jovens que agora iniciaram funções sejam capazes de aceitar o repto do papa “Ide sem medo para servir” dispostos a “destruir as barreiras do Egoísmo, da Intolerância e do Ódio e edificar um mundo novo”