Lopes Marcelo
Preservar e Divulgar
Nos dias que correm, de crise económica e financeira e de constrangimento social, há que dar prioridade ao essencial. Apostar no que é nosso, conhecer e divulgar a nossa cultura representa algo de essencial para assegurar o futuro como desígnio colectivo.
Hoje, numa sociedade cada vez mais aberta, importa aprofundar e valorizar o sentimento de pertença que mergulha nas raízes da identidade cultural. A Identidade está intimamente ligada à noção de património cultural, entendido como memória colectiva, fruto da história e das tradições que se sedimentaram, no percurso colectivo de sucessivas gerações. Cada pessoa sentir-se-á mais filho da sua terra, na medida em que partilhe da magia, da sabedoria popular, dos rituais, das tradições e dos valores históricos da sua comunidade. É a partilha, do conhecimento do passado comum, que nos pode reforçar culturalmente no presente e assegurar que a auto-estima e o sentimento de pertença continue solidariamente vivo em nós e se transmita às novas gerações.
Estudar, interpretar, preservar e divulgar o nosso património cultural e produtivo constitui o eixo fundamental das Instituições públicas, com especial relevância e responsabilidade para as Autarquias Locais que têm, no governo do território e suas gentes, o seu fundamento e razão de existirem. É nesta linha que se enaltece e se destaca o surgimento de mais equipamentos culturais na nossa cidade.
Em primeiro lugar, refiro-me ao CENTRO DE INTERPRETAÇÃO do Jardim do Paço, resultante de uma feliz itervenção que muito valorizou o acesso e contribui para melhor documentar a história e as características do notável jardim. Neste contexto, uma questão está ainda por resolver que se traduz no facto de o Jardim e o Paço Episcopal (Museu), tendo nascido em conjunto, com continuidade e complementaridade de funcões, continuarem separados e de costas voltadas, quais duas ilhas separadas por um muro! Só porque um é património da autarquia e o outro é património do Estado? Não seria desejável e vantajoso que o circuito da visita pudesse ser conjunto, com passagem do jardim para o Museu e deste para o Jardim, através de um só bilhete? É uma questão de articulação patrimonial e de organização, de planeamento, de capacidade de diálogo e de decisão.
Está anunciado o arranque do CENTRO DE INTERPRETAÇÃO E OFICINA do Bordado de Castelo Branco. É com grande espectativa que se aguarda a passagem do papel para a concretização, já que a decisão legal tem vários anos. Preservar a herança cultural e garantir a matriz de autenticidade do bordado, constituem vertentes essenciais.
Decorrem obras de requalificação de duas casas encostadas à muralha tendo em vista organizar-se um espaço expositivo sobre a história e evolução da nossa cidade. Mais um CENTRO DE INTERPRETAÇÃO sobre a nossa memória colectiva de enorme relevância cultural e pedagógica, sobretudo para as novas gerações através do envolvimento das escolas.
A produção de seda contitui uma actividade que foi significativa na nossa região nos ultimos três séculos (com destaque para a zona do Pinhal). Partir do núcleo de produção de seda da Quinta da Carapalha (APPACDM) tendo como base o ciclo cultural do linho e associar-lhe a fileira produtiva da seda e a sua aplicação nos bordados – eis um projecto com múltiplas componentes etnográficas de artesanato produtivo e decorativo possível de musealisar a médio prazo. Começar já por lhe chamar Museu da seda é que não é correcto nem adequado, porque muitas pesquisas de tecnologia tradicional e do correspondente entorno social há para realizar e valorizar.