4 junho 2014

Valter Lemos
A INSEGURANÇA DO PS

No Público online de 29 de Maio um individuo assinado Ventura Leite, identificado como “militante do PS”, escreveu um artigo de opinião em que, na defesa de António José Seguro, diz, entre outras coisas, que José Sócrates e o seu governo foram os responsáveis por todos os males que aconteceram ao país e não o governo de Passos Coelho ou o PSD e o CDS, critica o facto de Sócrates ser comentador da televisão pública, porque isso permite fazer a sua “reabilitação política” à nossa custa, a qual só pode ter lugar num país “para delinquentes compulsivos”. Depois critica António Costa, não por qualquer razão de conteúdo político, mas, porque muitos dos seus apoios vieram do “séquito de José Sócrates” e porque irá “proporcionar a reabilitação total” deste.
Mas, infelizmente, este é um argumentário que já ouvi mais vezes de outros militantes do PS apoiantes de António José Seguro, como recentemente de um dirigente local no distrito que me dizia que “o mal que o Seguro fez foi não ter corrido com todos os socráticos”.
Devo dizer que, exceptuando alguns discursos de campanha, não tinha visto ainda escrito um texto com tanto ódio político à governação de José Sócrates, mesmo pelos mais empedernidos opositores políticos do PSD, CDS ou mesmo PCP. Tal impressiona não só pela violência política e pessoal da argumentação, mas, por ser recorrente em alguns apoiantes de Seguro este alinhamento nas campanhas de ódio contra Sócrates, engrossando a torrente de calúnias contra ex-governantes do seu próprio partido, para tentar esconder todas as fraquezas da situação actual do PS e agora para atacar António Costa.
Aliás a argumentação serve para tudo e o seu contrário. O mesmo dirigente local dizia-me que, por um lado a atitude de Costa não se justificava porque o PS tinha tido “uma grande vitória nas eleições europeias”, mas, ao ver contestado o valor de tal resultado eleitoral, logo referiu que “esse mau resultado nestas eleições europeias deve-se a Sócrates e ao seu governo” e não à actual liderança do PS.
A cegueira (para não dizer a estupidez) deste argumentário é a mesma que levou a direcção de Seguro a uma atabalhoada e confusa fuga para a frente na questão do anúncio da candidatura de António Costa à liderança do PS. A invenção de umas primárias para candidato a primeiro-ministro, que antes chumbara, e que, afinal já são também para Secretário-Geral do PS (pois Seguro disse que se demite se perder) serve para quê, senão para tentar manter o mais tempo possível a verdadeira questão em banho-maria, com o PS a degradar-se todos os dias, como se vê pelo artigo referido? Aliás a proposta, para além das críticas generalizadas quer ao conteúdo quer ao método, deu oportunidade a uma ridicularização por parte de Marcelo Rebelo de Sousa a que o próprio AJ Seguro não devia ter dado essa oportunidade.
António José Seguro pode considerar muito injusto que lhe seja contestada a liderança, pois é reconhecido o seu esforço e o seu trabalho nestes últimos anos à frente do PS, mas, mesmo que não reconheça que os resultados obtidos são fracos e insuficientes para o que o país necessita, não deveria sujeitar o PS a um processo que degrada o PS, a política e a sua própria imagem. Não deveria em desespero de causa, face às críticas generalizadas a tal caminho, fazer afirmações como as que fez sobre Mário Soares e Jorge Sampaio e das quais provavelmente se irá arrepender.
Foi desafiado. Pura e simplesmente deveria responder ao desafio e convocar eleições. Jogo limpo e claro que permitiria o PS resolver rapidamente a dúvida. A quem interessa afinal que esta situação de luta interna se prolongue no tempo? Não me parece que ao PS possa interessar minimamente. E manifestamente também não me parece que possa interessar ao país.

04/06/2014
 

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