POETA FAZ REVELAÇÕES EM ENTREVISTA À GAZETA
António Salvado e a arte poética de uma vida de 80 anos
No dia 20 de fevereiro de 1936 nascia na Zona Histórica de Castelo Branco, mais precisamente na Rua d’Ega, um menino chamado António Forte Salvado. Um menino que era o mais novo de cinco irmãos, que se fez homem e que no próximo sábado completa 80 anos de uma vida que representa uma carreira dedicada à docência e à museologia, mas na qual a poesia é uma forma de estar e de viver muito personalizada.
A poucos dias do aniversário do poeta Albicastrense a Gazeta foi falar com António Salvado no espaço da sua casa onde produz muita da extensa obra poética, que conta com dezenas de títulos publicados.
Questionado quanto à origem do gosto que nutre pela poesia, António Salvado afirma que aconteceu “muito cedo e muito naturalmente. Lembro-me que pelos seis anos comecei a fazer algumas quadras, curiosamente, dedicadas à minha irmã mais velha e ao meu cunhado, que tinham acabado de casar”.
A partir daí, o gosto pela poesia “foi-se desenvolvendo, através de leituras”, acrescentando que “comecei a ler e a interessar-me por poetas muito cedo”.
Assim, com o passar dos anos, “a vocação, unida ao estudo e à experiência, foi dando origem à concretização da escrita em verso”.
Uma escrita que teve algumas influências, sendo esta uma matéria em relação à qual António Salvado adianta que “a leitura baseou-se em antologias da Literatura Portuguesa” e recorda que “mesmo na instrução primária os próprios livros já apresentavam versos de João de Deus e de outros poetas”.
Já quando estudava no Liceu Nacional Nuno Álvares, atual Escola Secundária Nuno Álvares, realça que “tive à minha disposição uma belíssima biblioteca, cujo setor de poesia comecei, desde o primeiro ano, a apreciar”.
Naturalmente o que escreveu ganhou forma em livro, constando na sua biografia que tal aconteceu aos 18 anos, com a publicação de A Flor e a Noite. Isto, recorda, “numa altura em que as edições eram de autor. Nessa altura já estava na Faculdade de Letras, em Lisboa, e havia a tendência para a formação de grupos, cujos membros, poetas, se iam editando uns aos outros”.
Mas, aqui, António Salvado faz uma revelação à Gazeta, ao confessar que, “em boa verdade e antes de A Flor e a Noite publiquei dois opúsculos, em Castelo Branco, intitulados Poemas da Alma e Imensidade”.
Estas foram, assim, as primeiras obras publicadas do poeta Albicastrense, aos 16 anos, às quais se refere como “dois livrecos de conteúdo por vezes provocador e arrogante”, sublinhando que estes “são defeitos que caracterizam sempre um adolescente”.
O que é a poesia
para António Salvado
Reconhecida nacional e internacionalmente, a poesia salvadiana é única, com António Salvado a afirmar que “todo o poeta tenta ser, na medida do possível e da sua vocação, um poeta original. Por mim, e desde muito cedo, senti uma vivida atração pelo classicismo, atracão essa que irá conduzir à forma acentuadamente clássica que os meus versos possuem”.
E nesta área acrescenta que, “por outro lado, o desenrolar de vivências e de experiências alicerçaram um conteúdo muito diversificado, recolhido em muitas dezenas de livros até hoje publicados”.
E a próxima obra, revela, é editada precisamente esta semana. Trata-se de As Linhas que Perduram e explica que “as linhas, digo eu, são os versos. Quanto à sua perduração, o futuro o dirá”.
Uma pergunta que se impunha ao poeta António Salvado, claro está, consiste no que é a poesia. Questão a que responde que “se perguntar o que é a poesia eu respondo-lhe com este dossier, onde se encontram seis pequenos livros, inéditos, que aguardam ser editados”.
Enquanto isso não acontece, a imagem de António Salvado vai passar a estar em destaque num espaço cultural de Castelo Branco, mais concretamente na Biblioteca Municipal, onde dentro de pouco tempo poderá ser apreciada uma tela alusiva ao poeta Albicastrense, da autoria de Ruth Campanha, que foi divulgada no colóquio sobre António Salvado, em outubro do ano passado.
Orgulho em ser
Albicastrense
Com uma vida recheada de experiências, a todos os níveis, António Salvado realça que “não tenho sido propriamente um… empresário de sucesso. Evidentemente que ao longo de uma carreira literária de grande alargamento também houve dissabores. Também houve desamores. Também houve…”, concluindo que “o tempo o dirá, porque o tempo tudo nos diz, onde se encontra a verdade”.
Por outro lado, António Salvado não hesita em afirmar, ao ser questionado se sente orgulho de ser Albicastrense, que “sim. Sinto orgulho em ser Albicastrense. Isto, porque desde novinho que verifiquei que entre sentir, sentir alguma coisa e existir num local, constitui, no final, duas faces da mesma moeda”.
Recorda que houve um escritor português que afirmou: “A minha terra é aquela que me dá o pão”, para avançar que “Castelo Branco deu-me, desde que nasci, muito, muito amor, familiar e não só” e garante que “é isto que sempre senti e continuo a sentir”.
António Tavares