5 de outubro de 2016

Valter Lemos
SE EM POLÍTICA O QUE PARECE É…

Nas últimas semanas dois assuntos internacionais têm ocupado grande parte dos noticiários portugueses. O primeiro respeita à designação do Secretário-Geral da ONU e o segundo às eventuais sanções de suspensão dos fundos da UE a Portugal por razão do não cumprimento da meta do défice em 2015.
Quanto á designação do Secretário-Geral da ONU, muitos portugueses exultaram com a candidatura de António Guterres. Tal exultação tem algum sabor especial para os que vivem nesta região. Afinal de contas Guterres, mesmo sendo hoje um cidadão do mundo, é um pouco “nosso”. Grande parte da sua carreira política fez-se com ligação a esta região e o seu governo é um dos de boa memória para mesma. A possibilidade, que se foi tornando crescente, dele triunfar no processo de designação fez crescer esse sentimento na maioria dos portugueses. Na verdade, com o passar do tempo e o cumprimento dos procedimentos fixados pela própria ONU, a candidatura de Guterres foi-se sedimentando. Ele ganhou todas as votações informais realizadas.
Já na reta final do processo aparece uma nova candidatura. A qual, apesar do nome da candidata ser Kristalina, se apresenta muito opaca. Porque, pelo menos na aparência, parece conter alguma “batota”, ao não querer cumprir os requisitos cumpridos por Guterres e todos os restantes. Mas, surpreendente para muitos foi que essa candidatura fosse apoiada ou até “inventada” pela chanceler Merkel e pela Comissão Europeia. Afinal Guterres não era já um candidato de um país da União Europeia? Não seria de esperar que um candidato de um país da UE, que já detinha a maioria dos votos fosse apoiado pelos órgãos da própria UE e pelos países membros? Não era de esperar que a UE agisse como um bloco político coeso, face aos restantes blocos?
Pois, mas não foi isso que aconteceu. A razão pela qual a senhora Merkel, o presidente da Comissão Europeia e outros não apoiam o reconhecidamente europeísta Guterres e propõem outra candidata é porque este não pertence à sua família política. Guterres é como se sabe da família socialista europeia e aquelas personagens são da família da direita europeia, o Partido Popular Europeu. Que hoje domina a maioria dos governos europeus e a Comissão Europeia. Assim sendo entendem que o “seu” candidato não pode ser um europeu que não pertença à sua família política. É triste, mas é verdade. É a face mais crua da política.
É por isso que a construção europeia tem vindo a ser, no século XXI, em que a maioria dos governos europeus são de partidos da família do Partido Popular Europeu, uma “desconstrução” e não uma “construção”. Hoje há verdadeiramente “menos” Europa do que havia há 15 anos atrás.
O segundo tema de atualidade tem exatamente que ver também com a mesma abordagem da UE. Creio que a maioria dos portugueses não consegue mesmo entender esta questão das eventuais sanções de suspensão dos fundos europeus. Em primeiro lugar porque pensa que se Portugal cumpriu com rigor (e há quem diga que até com devoção) e com grande impacto na vida de todos os portugueses o que nos foi imposto pela UE, como é possível penalizarem-nos? Em segundo lugar, se o défice orçamental ficará, segundo a própria UE, abaixo do limite fixado de 3% (e até possivelmente de 2,5%), porquê uma penalização relativamente ao ano anterior? Afinal o objetivo não está a ser atingido? Por outro lado, ainda como é possível decidir não aplicar uma multa porque, segundo a própria Comissão Europeia, já não se justificaria e agora ameaçar suspender Fundos com uma consequência financeira, económica e social muitas vezes pior do que a tal multa?
Há uma velha máxima que diz que “em política o que parece, é”! Aplicada ao caso português, significa que, aparentemente, a UE quer penalizar Portugal, de alguma maneira. Portanto deve ser verdade. E qual a razão? Voltamos à crueza da política. O governo português não é da área política da esmagadora maioria da UE e respetivos membros da Comissão e do Conselho. Este governo aplicou um programa que, em vários aspetos, teve a oposição declarada da Comissão Europeia que dizia que iria aumentar o défice orçamental. Afinal o défice diminuiu. Ou seja, enquanto a política foi a que a UE quis o défice ficou acima do que devia e agora que a política foi contrária ao desejo expresso da Comissão, o défice diminuiu. Como reage a Comissão? Penalizando Portugal pelo défice anterior. Se em política o que parece é…
É assim que, neste século XXI, as forças políticas dominantes na Europa foram desconstruindo a União Europeia. É assim que foram ganhando a oposição dos cidadãos. É assim que foram fazendo crescer as forças nacionalistas e xenófobas e fazendo aparecer governos que envergonham os valores europeus, como o da Hungria. É assim que os britânicos se convenceram que era melhor estar fora da UE. É assim que, até eu próprio, convicto europeísta, dou, por vezes, comigo a pensar como é possível os portugueses comprarem tantos BMW’s ou Mercedes?

06/10/2016
 

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