João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana
Os incêndios têm sido infelizmente, desde há demasiado tempo, assunto recorrente, já com várias primeiras páginas da Gazeta a destacar um dos maiores dramas que o nosso País já viveu desde há vários anos. Este ano já foram mais de cem vítimas de uma morte terrível e Portugal, as autoridades responsáveis, não podem baixar os braços, mostrar quaisquer sinais de impotência perante esta calamidade. Se é bem verdade que a seca extrema, como mesmo os mais velhos não recordam assim, e a conjugação única de vários fatores atmosféricos, são os responsáveis em primeira instância, também não podemos esquecer que uma das mais básicas funções do Estado é a de proteger as vidas e os bens dos seus cidadãos. Não é bonito, mesmo que fosse expectável, o aproveitamento político da calamidade, ainda para mais vindo de políticos que até já tiveram responsabilidades nesta área e de quem não se lhe conhece obra. Pelo futuro das nossas comunidades, pelos nossos filhos, este é um assunto que deve ser discutido com serenidade, sem ambiguidades, com vontade de criar consensos. O Governo já deu um passo importante ao anunciar que iria implementar as medidas apontadas no relatório elaborado pela equipa de especialistas independentes criada pela Assembleia da República. E uma das primeiras medidas terá de ser obrigatoriamente a reforma do atual sistema de proteção civil que este ano mostrou várias inconsistências. Prioritário terá de ser também tornar eficaz e seguro o sistema de comunicações, porque num país que além dos incêndios tem ainda outros riscos naturais como os sismos, as populações têm de estar seguras de que numa situação de calamidade as comunicações funcionam mesmo. Isso é mesmo o mínimo que se pode exigir. E não será com este SIRESP que poderemos dormir descansados. E finalmente há o já tão falado, mas sempre adiado, reordenamento da floresta. Aqui é onde vai ser mesmo indispensável o consenso entre o maior número possível de áreas políticas, até porque será uma tarefa para começar amanhã mas demorará a implementar vários anos. Para ajudar e como ponto de partida, seria importante que se reforçasse o funcionamento e intervenção das ZIF (Zona de Intervenção Florestal).
Tudo isto também tem a ver com as alterações climáticas de que Trump nem quer ouvir falar. Parece mesmo que a sua administração deu instruções explícitas aos organismos americanos de meteorologia de não mencionarem tal coisa na análise que façam de fenómenos meteorológicos extremos, cada vez mais habituais. Depois de um período de alguma acalmia, Trump voltou a incendiar o Mundo, a isolar cada vez mais a América do resto do mundo ocidental ao por em causa o acordo de controle da armas nucleares do Irão que tanto custou a construir, ao manter via Twitter o confronto de palavras (por agora...) com Kim Yung-un, que se não fosse tão grave apetecia qualificar de criançolas. E há o abandono da UNESCO, pelos EUA, para adornar o bolo das perigosas idiotices. Só daqui a alguns anos saberemos na totalidade todo o mal que Trump fez ao mundo que a todos pertence. Como dizia ainda esta semana Pacheco Pereira, detenham o homem, o mais depressa possível, porque é “desequilibrado”. A sério. Depois será tarde. (Deus queira que não, digo eu).