João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
Foi uma semana delicada para o executivo de António Costa. Depois de uma comunicação sobre os terríveis incêndios de fim de semana que muitos consideraram desadequada por mostrar algum distanciamento e frieza perante os trágicos acontecimentos e, principalmente, por não ter assumido as falhas do Governo, pedindo desculpa às famílias das vítimas, já que deve ser a segurança das vidas e haveres dos cidadãos o primeiro objetivo do Estado, o Presidente da República sentiu necessidade de vir a terreiro, ele próprio, a pedir desculpa em nome do Estado e a tomar como suas as dores do povo. Desde logo ao iniciar uma peregrinação por todos os concelhos afetados, por onde espalhou afetos, beijos, abraços e palavras de conforto, e a sua ação teve forte repercussão, mesmo em jornais estrangeiros como o El Pais que apresentou dele uma bela e emocionante fotogaleria. Também reuniu com os autarcas, e tomou posição sobre alguns assuntos, mesmo que não fossem claramente da sua alçada. Nas palavras que proferiu na terça, em Oliveira do Hospital, foi também particularmente duro para com o Governo, pediu assunção de responsabilidades e mudanças urgentes. O resultado foi quase imediato, com a apresentação do pedido de demissão da ministra da Administração Interna e de toda a sua equipa e obrigou António Costa a mudar de estratégia e a assumir uma mudança de ciclo governativo. Entre outros motivos para considerarmos importantes as palavras do Presidente, o mais importante foi o de criar um consenso nacional à volta de um problema que exige soluções que têm sido sucessivamente adiadas por sucessivos governos, antes o agravando cada vez que se tomavam decisões no sentido de fechar tribunais, escolas, balcões dos correios e outros serviços, contribuindo assim para uma maior desertificação do Interior, que sem gentes ficava mais indefeso perante calamidades como esta. Agora, a promessa é a de investir muito mais na prevenção do incêndio, melhorar o combate com mais profissionalização e formação dos bombeiros e o envolvimento do Exército. Entretanto, como era de esperar, o Governo já fez o Estado tomar posição acionista maioritária no SIRESP. As palavras do Presidente não foram meigas, mas desenganem-se aqueles que pensam que terminou o período de bom relacionamento entre os dois órgãos de soberania e que Marcelo já não fará tudo para manter este governo em funções, em benefício da estabilidade. Vai continuar a ser um Presidente atento, interventivo, mas capaz de dar um braço amigo a António Costa. Tão certo como Cristiano Ronaldo continuar a ser, pela quinta vez, o melhor jogador do Mundo.