José Dias Pires
CIDADANIA E INDEPENDÊNCIA
A clarificação dos valores essenciais para o exercício da cidadania passa pela assimilação do princípio que o conhecimento é a ferramenta mais poderosa no próximo futuro de uma nova era da economia, da competitividade e da inovação.
Em qualquer comunidade, e naturalmente também em Castelo Branco, exercer a cidadania tem de ser algo que permita acrescentar dignidade à pessoa humana, primeiro, pelo conhecimento, depois, pelo afeto, a tolerância e o sentimento moral das relações estabelecidas e, por último, pela ação.
Os dilemas e conflitos individuais, assim como os sociais, morais ou mesmo políticos devem ser integrados em reflexões que liguem o cognitivo ao moral ou que permitam, equilibradamente, que o desenvolvimento do raciocínio lógico possa acompanhar o desenvolvimento do raciocínio moral.
E não há comunidades a salvo destas questões que devem ser tratadas com independência — uma independência social, intelectual e cultural que não é apartidária nem não ideológica, mas que é indispensável para mostrar, e demonstrar, através de abordagens explícitas e práticas, que os direitos correspondem a ações que têm a ver com os benefícios do indivíduo e que os deveres têm a ver com o respeito pelos indivíduos, e que não é negligenciando os deveres que podemos exigir os direitos.
Só um exercício independente da cidadania pode possibilitar a utilização social dos valores, do conhecimento e dos saberes, mas tal implica atitudes de coerência na forma como se é e se está em sociedade:
Pensar para agir, nunca agir sem pensar.
Pensar em coletivo sobre as mesmas questões, aceitando as diferenças e procurando consensos.
Pensar tendo em atenção que há três componentes que devem interagir, sem predomínio de nenhuma, para que o exercício da cidadania e a educação cívica sejam mais plausíveis e evidentes:
— A visão geral do mundo ao qual pertencemos;
— O contexto no qual cada um de nós se encontra;
— As intenções ou os projetos pessoais que condicionam cada uma das nossas interpretações.
Importa, pois, pensar.
Pensar a participação ativa e o envolvimento na vida da comunidade, sustentando e contribuindo para a produção de conhecimento, para a responsabilização, a partilha de culturas e o desenvolvimento da identidade dos sujeitos.
Pensar que o direito de participar na vida política, económica e social não significa só por si que os indivíduos se impliquem no seu exercício efetivo, nem que estejam equipados para o fazer em situações de igualdade.
Pensar que a cidadania ativa decorre do sentimento de pertença dos indivíduos e dos grupos à sociedade em que se inserem e, por isso, depende também da promoção de condições de inclusão e coesão social, bem como do desenvolvimento de atitudes e valores.
À medida que o exercício da cidadania se transforma num processo de inclusão social, as oportunidades de desenvolver e praticar a autonomia, a responsabilidade, a cooperação e a criatividade, contribuem para que em cada sujeito desponte um sentimento de mérito pessoal, no confronto e na tolerância face a ambiguidades e oposições manifestadas por outros.
A prática da cidadania alicerça-se num processo de reflexão crítica, não devendo ser automaticamente pré-estruturada através de uma listagem fixa de normas e valores.
Um exercício independente da cidadania deve contribuir para o desenvolvimento da compreensão intercultural e de capacidades de tomada de decisão e resolução de problemas, as quais se desenvolvem sobretudo através da prática e da experiência.
Nas outras comunidades? Certamente.
Em Castelo Branco? Naturalmente — devemos dar o exemplo.
Importa, pois, contribuir e ajudar a pensar Castelo Branco para que o exercício da cidadania não se fique em apontar o dedo numa exigência compulsiva a quem nos governa, quando a obrigação também é nossa.