João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
COM A DATA DAS ELEIÇÕES a aproximar-se a passo largo, os partidos vão aquecendo os motores, afinando estratégias. Por estes dias os três primeiros partidos, em deputados, estiveram em ações que os colocaram nas primeiras páginas dos jornais e a ocupar boa fatia do tempo de emissão dos canais de notícias. A começar pelo PS, que teve o seu congresso da passagem de testemunho de António Costa para Pedro Nuno Santos. Foi um congresso que correu bem ao PS e a Pedro Nuno Santos. Houve unidade e organização e na estratégia está certamente o dedo de Alexandra Leitão, um dos melhores e mais bem preparados quadros socialistas e que muita gente ainda não entendeu como António Costa a dispensou na formação do seu governo de maioria absoluta. Depois de uma entrada muito frouxa no discurso de vitória das eleições internas, desta vez apresentou-se com ideias claras sobre o que quer para o País, com algumas propostas que surpreenderam agradavelmente os comentadores e fazedores de opinião. Do fim de semana, ficaram as propostas concretas num esboço de programa de governo e o seu líder saiu com uma imagem reforçada de confiança, a ser já referido na comunicação social apenas pelos dois primeiros nomes, Pedro Nuno. Não são coisas de somena importância, podem crer.
O dia do encerramento do congresso do PS, foi o dia escolhido por Luís Montenegro para apresentar e formalizar a nova Aliança Democrática (AD), uma espécie de regresso ao passado de boas memórias para muitos. O evento fez reunir as grandes figuras dos partidos agora aliados e também um grupo de independentes, nomes conhecidos, que apostam na alternativa aos oito anos de governo socialista. Nisto foi bom, marcou pontos. Mas não dá para esconder que os líderes desta nova AD não se aproximam, nem de perto nem de longe, da estatura dos políticos que criaram a AD do final dos anos 70, Sá Carneiro, Diogo Ferreira do Amaral (incompreensívelmente substituído no imaginário da sessão por Adelino Amaro da Costa) e Gonçalo Ribeiro Telles. O que parece ainda não ser claro é se o PSD vai tirar proveito extraordinário desta aliança com o CDS, um partido fundador da nossa democracia, com bons quadros, mas que hoje nem sequer tem representação parlamentar, e com um PPM que teve pouco mais de 200 (!) votos nas últimas eleições e é liderado por uma figura de opereta, com opiniões que o colocam muito mais próximo do Chega. Há muito quem pense que não há método de Hondt que justifique substituir o nome PSD (eleitoralmente mais forte) por uma AD que, por muito que se queira, não é a mesma da de Sá Carneiro.
E tivemos por último o partido de André Ventura debaixo dos holofotes. Um congresso que mais uma vez o reelegeu, com 99 por cento dos votos, valores que fazem inveja a uma Coreia do Norte. Vimos Ventura a ensaiar um discurso mais moderado, esqueceu os ciganos, a castração química e a prisão perpétua, mas a manteve temas como o da imigração, igualdade de género e corrupção, com mentiras, números manipulados, a prometer tudo a todos, polícia, professores, médicos e pensionistas e a afirmar-se como candidato a primeiro ministro, forma inteligente de fazer estancar o previsível voto útil na AD. Um partido que está a atrair muito eleitorado jovem e o que de forma mais eficaz utiliza as redes sociais, em particular o TikTok… Como perguntava um conhecido comentador de um semanário, candidato a primeiro ministro ou vendedor de banha da cobra, quem é que para Ventura?