21 agosto 2013

Lopes Marcelo
Querido mês de agosto!

lopes marcelo.jpg

A aldeia aguarda com ansiedade a chegada do mês de Agosto! Em saudoso sobressalto as famílias preparam as casas e organizam-se para bem receberem os que vêm de longe!
As nossas terras vibram neste mês e, especialmente, na semana da festa anual, como verdadeiras comunidades de origem. É a festa do reencontro, de se voltar aos lugares da infância, território genuíno dos afectos e da celebração da memória, verdadeira, pequena, mas íntima pátria de cada pessoa sobretudo, se a ausência foi longa!
Para quem, de modo apressado e superficial, reparando nas inúmeras festas que animam todo o país, poderá criticar negativamente: mas que é isto, então não estamos em crise?
Contudo, fraco e desenraízado é o olhar e equívoco o sentir de quem possa reagir assim! É que por grandes que sejam as dificuldades, cada pessoa tem necessidade de se rever na terra a que pertence, desde logo à sua comunidade de origem. Em cada reencontro, as casas e as ruas são-lhes familiares. Certamente modestas e até mesmo pobres, mas foi ali que o seu olhar ganhou os primeiros horizontes! E os rostos e os gestos são mais quentes e autênticos! Já o senti por experiência própria e muitos emigrantes têm confirmado que, quando lá fora analisam os rostos das pessoas e fazem a comparação com as pessoas da sua terra, os dos seus conterrâneos saiem sempre a ganhar!
E a celebração da memória dos entes queridos já desaparecidos ganha um significado mais especial e colectivo, quando é feito na terra que os viu nascer. Designadamente, na visita ao Cemitério, campo sagrado da sua terra natal, carregado de simbolismo místico e religioso!
Logo de manhã pela fresca, ou, então, à tardinha, acompanhando os pais e, ou, os avós, lá seguem em grupos até às hortas, revisitando os terrenos por onde correram, armaram os «costis» aos taralhões e outro pássaros, e tantas outras actividades que marcaram de forma indelével a sua infância e juventude. Pelo menos nestes reencontros, o convívio entre as várias gerações é moldura afectuosa de permuta e de etre-ajuda mas, também, de novos conhecimentos sobre as actividades produtivas e o contacto com os animais  na moldura dum tempo natural (com os inevitáveis ciclos de vida e de morte) que nas cidades se perdeu quase sempre de forma irremediavel.
E chegado o dia da festa, as melhores colchas voltam às janelas, e lá segue a festiva procissão com dificuldade pelas ruas cheias de automóveis. O andor da(o) santa(o) vai passando de ombro em ombro, a banda filarmónica que logo cedo tinha feito a musical arruada marca o compasso até á capela! Os grandes guiões vão á frente bem levantados logo seguidos pelas bandeiras oferecidas em nome sigilosas promessas. Seguem-se os andores menores dos santos de várias devoções e, a fechar, o imponente andor do (a) titular da festa, em tantos balcões saudada com o lançamento de perfumadas pétalas! As pessoas cantam e rezam, irmanados na condição de povo com raízes e tradições que são celebradas ainda com autenticidade!
Podem tirar-nos muitas coisas, mas ninguém interfere com a matriz profunda da energia colectiva da nossa identidade cultural que, em cada ano, é renovada sobretudo no querido mês de Agosto.

 

Outros Artigos

Em Agenda

 
08/06
As linhas vão ao cinemaCine-Teatro Avenida, Castelo Branco

Gala Troféu Gazeta Atletismo 2023

Castelo Branco nos Açores

Video