4 dezembro 2013

Valter Lemos
RIQUEZA E DESIGUALDADES

Vinte e cinco pessoas (25!) têm, em Portugal 10% do produto nacional. E a riqueza dessas 25 pessoas cresceu mais de 3 mil milhões de euros no ano passado.
Também, segundo o Banco de Portugal, uma dezena de gestores bancários ganhou mais de um milhão de euros de remunerações, no ano passado.
Estes factos teriam outro significado se não vivêssemos os tempos que correm. Nos últimos dois anos a economia portuguesa contraiu-se como nunca aconteceu nas últimas décadas. Nos últimos dois anos os portugueses pagaram impostos como nunca tinha acontecido antes. Nos últimos dois anos os funcionários públicos tiveram cortes de rendimento como nunca havia acontecido. Nos últimos dois anos centenas de milhares de portugueses ficaram sem trabalho. Nos últimos dois anos dezenas de milhares de jovens licenciados emigraram porque não conseguiam sobreviver em Portugal. Nos últimos dois anos milhares de famílias ficaram sem casa por não poderem pagar as prestações bancárias. Nos últimos dois anos as desigualdades cresceram em Portugal a um ritmo de que já não tínhamos lembrança.
É por tudo isso que o facto de, nesse período, a riqueza dos mais ricos ter crescido ainda mais, se torna um facto chocante. Não por haver ricos, o que em si mesmo até constitui um sinal positivo, mas pelo facto dos poucos mesmo muito ricos ficarem ainda mais ricos, ao mesmo tempo que quase todos os outros ficam mais pobres.
Ainda assim, o governo, com o apoio do PSD e do CDS, acaba de aprovar um orçamento para 2014, onde o corte de rendimentos dos portugueses, especialmente dos reformados e pensionistas e dos funcionários públicos, vai continuar em alguns milhares de milhões de euros, afirmando que tal austeridade continua a ser necessária. Mas, verifica-se que afinal, quase 90% dessa austeridade é paga pelos rendimentos do trabalho. Por outro lado o governo até baixa o imposto sobre as empresas (mas de forma a que só beneficiem dessa baixa uma dúzia de grandes empresas).
Alguém duvida que no final do próximo ano, verificaremos que os mais ricos voltaram a ficar mais ricos e os outros ficaram todos mais pobres?
O primeiro-ministro Passos Coelho afirmou, no tortuoso início do seu mandato que tínhamos que empobrecer. Mas ele sabia bem que não estava a referir-se a todos. Ele queria fazer empobrecer, a classe média, os pequenos empresários, os trabalhadores por conta de outrem, os reformados, os funcionários públicos. Queria fazer empobrecer, também, ainda mais, os desempregados e os excluídos. E, na verdade, tem conseguido. Mas, consegue ainda mais. Consegue, ao mesmo tempo, enriquecer, ainda mais, os mais ricos.
Porque, verdadeiramente todos sabem que é isso que se está a passar em Portugal. Inicialmente ainda podiam pensar que era um efeito inesperado, secundário ou imprevisto do programa de austeridade, mas, no fim deste tempo, já sabemos que assim não é. Só pode ser mesmo propositado. O que se está a passar neste país é, na verdade, um processo verdadeiramente indecoroso de aumento das desigualdades, não já, sequer, pelo “normal funcionamento do mercado”, mas por uma política objetiva e determinada de transferência de recursos do estado social e da classe média para um reduzido número de interesses e detentores de poder económico e político.
Se todo o país estivesse a enriquecer nada importaria que os que já têm muito ganhassem ainda mais. Mas, estando todos os outros a empobrecer torna-se especialmente chocante que os que mais têm, ainda estejam a ganhar com o empobrecimento dos restantes.
Duplamente chocante é o facto do governo e dos partidos da maioria argumentarem que não é possível fazer outra coisa e que tudo isto é inevitável. Porque essa atitude do governo trata os portugueses, não só como súbditos, mas também como estúpidos. O que não dignifica nenhum governo, nem nenhum governante, em democracia.

04/12/2013
 

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