Sobre a Covilhã judaica
Antonieta Garcia edita livro
A Covilhã Judaica – Descobertas e Inquisição (Apontamentos) é o título do livro mais recente da autoria de Antonieta Garcia, que foi apresentado na passada quarta-feira, dia 5, na Câmara da Covilhã. A apresentação da obra teve início com a atuação de um coro dirigido pelo maestro Luís Cipriano, seguindo-se uma intervenção do presidente da Câmara, Vítor Pereira, que agradeceu a presença de todos, entre eles a embaixatriz de Israel em Portugal, Tzipora Rimon.
Refira-se que a ideia da publicação do livro nasceu de uma sugestão do secretário-geral da Rede de Judiarias de Portugal, Jorge Patrão.
A Covilhã Judaica – Descobertas e Inquisição (Apontamentos) aborda a presença de judeus na cidade beirã, durante a Idade Média, o período inquisitorial, bem como o renascimento de práticas judaicas, no Século XX e fala de José Vizinho, de Pêro da Covilhã, dos irmãos Faleiro… cosmógrafos, cartógrafos, mareantes que pesquisaram e acharam rotas de portos seguros a haver.
Antonieta Garcia afirma que “Portugal, nos séculos XV e XVI, era um país onde todos os sonhos eram possíveis. Atraía idealistas e gentes que dilatavam o mundo. Grandeza tamanha não coube num tempo atravessado por profundas mudanças culturais, sociais e económicas, por uma crise religiosa. Após as Descobertas, um Portugal velho, nobre, conservador, há de querelar, durante séculos, com um novo Portugal de cariz mercantilista. O poder inquisitorial fundamentado num programa contrarreformista cria muito medo. O Santo Ofício emaranhava vidas, cerzia denúncias, calúnias, inimizades, vinganças, julgava e condenava, em nome de Deus. Ainda ninguém achou o volume da agonia sofrida nos cárceres inquisitoriais. O caleidoscópio de enredos e histórias de heróis e de miseráveis cruzam-se, contaminam-se. A língua quase sempre se soltava sob tortura. Quem podia, expatriava-se. O Santo Ofício gerou infernos e preconceitos que lhe sobreviveram”.
Apesar de tudo isto, como conclui a autora, “os judeus resistiram na Covilhã, na Beira e, nos anos 80 do Século XX, ainda era possível ouvir testemunhos de famílias sobre vivências judaicas”.