18 junho 2014

Lopes Marcelo
Entroicados!

Quem abriu garrafas de champanhe em plena campanha eleitoral, para celebrar a saída da troica e o fim do designado período de resgate do nosso país, está agora a dizer-nos que as medidas de austeridade são para durarem por muitos mais anos. Repetiram várias vezes que aplicaram as políticas que decidiram não só por imposição da troica mas, antes, em maior dimensão e intensidade, porque entendem que o projecto que têm para o país contemplava tais medidas de empobrecimento.
Não se cansaram de dizer-nos que vínhamos vivendo há mais de uma década muito acima das nossas possibilidades e que todos contribuímos para a enorme dívida do país. Que todos somos responsáveis por essa dívida. Fizeram as contas, dividiram o total da dívida pelos portugueses e aí estava o número de muitos milhares de Euros de dívida que cabia a cada português. E esse número (rácio) não tem parado de crescer, pois que a dívida tem continuado a crescer aos milhões e o número de portugueses activos a residir no país a diminuir às centenas de milhar! Tudo parece claro, mas só acredita e aceita quem quer. Até o povo diz: que o pior cego é o que não quer ver»! Por mim, declaro já e de forma clara e inequívoca que não vivi acima das minhas posses. Vivi apenas do meu trabalho, não contraí dívidas, investi em algum património familiar e ainda poupei alguma coisa, preocupado com o futuro embora, com uma longa carreira contribuitiva tinham-me feito as contas para a reforma, já que completei, há um ano, a idade legal para a aposentação. Ainda bem que poupei, pois que o contrato de há mais de quarenta anos foi rasgado pelo Governo. Bom, como diz o povo: «quem sabe o aque vai na panela, é quem mexe nela». Por isso, cada leitor em face do seu caso ou casos que conheça, pensará o que entender.
Só com a mentalidade dos expertos em matemática da troica, dos que vieram de fora e dos seguidores que cá temos, é que se pode entender que menos por menos dá mais. Isto é, realmente, menos dos cortes, menos dos serviços que fecham só poderá dar mais descontentamento e mais revolta! Se tudo isto continua, podemos dizer que estamos mesmo entroicados! De facto, quem nos governa tem a troica na cabeça, no coração e no sentimento, já que a sua estratégia e bandeira de atrair o investimento externo impõe mais empobrecimento, altos níveis de desemprego, baixar a remuneração média do trabalho, desorganizar as relações de trabalho, aí está o ataque às Convenções colectivas de trabalho e o aligeirar das condições exigidas para o despedimento por justa causa. Mas onde é preciso chegar, a que nível é preciso baixar para que o investimento volte a ser significativo? Prosseguir nesta estratégia de mais austeridade não é neutro em termos de interesses sociais, há sempre quem ganhe e quem perca. Que cada leitor faça a leitura que melhor entender.
Uma outra «verdade» que os entroicados têm propalado é que não tem havido dinheiro, que não há dinheiro para nada! E de tanto o repetirem parece que muitos vão acreditando sem se aperceberem das reais prioridades que estão por detrás das medidas e políticas. Houve dinheiro para salvar bancos e, pasme-se, para pôr de lado uma reserva financeira de perto de duas dezenas de milhares de milhões de Euros! De tal maneira, que dizem agora inchados que podem prescindir da última tranche do empréstimo da troica! Em que família se poria dinheiro de lado com os fihos a passar fome? Colocam-se milhares de milhões de Euros de lado, mas não há algumas dezenas de milhares de Euros para entrar em funcionamento a Unidade de Serviços Continuados da nossa Santa Casa da Misericórdia. E, quando entrar, quem a compensa das muitas dezenas de milhares de Euros pagos em juros, pelo facto de tal serviço tão útil e necessário estar pronto há mais dum ano, mas não abrir? E já agora, se fizerem inauguração com pompa, não se esqueçam da circunstância de informar sobre estes números.
Aceitem que assine esta crónica: um cidadão não entroicado. E o caro leitor, é entroicado ou não?!

18/06/2014
 

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