24 setembro 2014

Fernando Raposo
Claro que estou chateado!…

Defendio aqui, neste espaço de opinião. Face à disponibilidade de António Costa para se candidatar à liderança do Parido Socialista em consequência da avaliação que fizera sobre o resultado que o Partido obtivera nas eleições para o Parlamento Europeu, teria sido prudente que António Seguro convocasse um congresso de forma a dirimir-se internamente, e em tempo útil, este diferendo.
Apesar do elevado número de simpatizantes inscritos no âmbito das primárias, facto que já mereceu a manifestação pública de regozijo de ambas as candidaturas, continuo a entender que o arrastamento da resolução da contenda criada por tempo tão alargado, apenas tem contribuído para desgastar o partido, acicatar ressentimentos e aprofundar clivagens entre militantes.
Se este novo processo de escolha do candidato a Primeiro-Ministro, introduzido pelo partido, tivesse sido objecto de uma análise, discussão e avaliação interna atempadas e ocorresse num contexto normal da vida do país, então faria todo o sentido e eu teria sido o primeiro a congratular-me com a bondade da iniciativa.
Tivesse-se como objectivo a apresentação, discussão de ideias e propostas para esclarecimento dos eleitores e ter-se-iam poupado os portugueses ao vexame em que os militantes se insultam no espaço público e nas redes sociais.
Em nada se enobrece a actividade política e a qualidade da democracia, quando a argumentação roça o insulto e a insinuação difamatória, dividindo os socialistas entre “cristãos novos” e “cristão velhos”.
É por isso que, enquanto socialista militante, não posso aceitar que aqueles que pelas suas funções têm o dever de unir o partido, incitem antes à sua cisão, insinuando que há um partido bom e um partido mau, estando este do lado do diabo e aquele do lado de deus.
O tom e a dureza da “argumentação” em nada concorrem para a unidade do partido e para mobilização dos militantes. Tudo isto teria sido evitado se o Secretário-geral tivesse tido a coragem de convocar o congresso para se sair do impasse. Em congresso, no recato do partido, a expressão do ressentimento até seria entendível. Agora, na praça pública, aos olhos de toda a gente, apenas se deu mais um passo no sentido da descredibilização da classe política.
É por tudo isto que estou chateado. Claro que estou chateado!…
Não se entende a urgência da apresentação de um projecto de deliberação sobre a reforma das leis eleitorais, neste momento em que se disputam as primárias e quando se está na parte final da legislatura e sobretudo quando esta matéria não é consensual no seio do PS.
O clima de tensão gerado com as eleições primárias tem precipitado a direcção do partido a tomar iniciativas, como esta, que julgo inoportunas e que podem ficar comprometidas num futuro próximo.
Dada a sensibilidade desta matéria, designadamente quanto à redução do número de deputados e da lei de incompatibilidades, impunha-se um trabalho aturado de construção de consensos quer no interior do partido quer com outros partidos.
O que terá levado o Secretário-geral do PS a propor a redução do número de deputados, quando na opinião de vários especialistas em ciência política essa redução põe em causa a representatividade dos pequenos partidos e dos territórios de baixa densidade.
O PS opusera-se sempre à pretensão do PSD em reduzir o número de deputados. Tal propósito não tinha outro objectivo senão o de reduzir a expressão do CDS e a capacidade de influência e de decisão das regiões mais despovoadas.
Não quero crer, enquanto socialista militante, que António José Seguro se tenha movido com o mesmo propósito relativamente aos partidos à esquerda do PS.
É por tudo isto que estou chateado. Claro que estou chateado!…

24/09/2014
 

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