PROJETO PHONAMBIENT APRESENTADO
A cidade vista com os ouvidos
O Phonambient, que é um projeto de documentação e trans- formação artística do património sonoro contemporâneo coordenado pela associação cultural Sonoscopia, tal como a Gazeta adiantou na edição da semana passada, foi apresentado quinta-feira, no Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco (CCCCB).
Uma apresentação em que Gustavo Costa, da Sonoscopia, deu a conhecer os objetivos do projeto, que além de Castelo Branco, no Distrito também está a ser desenvolvido no Fundão, cidades a que se juntam mais quatro do País, que são Braga, Guarda, Porto e Tondela, bem como uma cidade estrangeira, que é Abu Dhabi.
Assim, o Phonambient tem como objetivo registar e disponibilizar numa base de dados digital os sons que caracterizam uma cidade ou região, incluindo paisagens sonoras, sons localizados, excer- tos musicais, fonética e fonologia.
Gustavo Costa acrescentou que o projeto pretende “documentar os sons de uma cidade, fazer uma reflexão sobre esses sons e cartografá-los num mapa”, ou seja, “com o Google Maps cada som tem um ponto no mapa da cidade e selecionando o ponto é possível ouvir o som”.
Para desenvolver o trabalho foram constituídas equipas locais, porque este “é um projeto ligado à identidade sonora de cada cidade e, por isso, é importante que a equipa estivesse ligada à cidade”.
Com este ponto de partida, em Castelo Branco foi constituída a Phonorquestra, que é uma orquestra de manipuladores dos sons da cidade criada especificamente para este projeto e que é constituída por alunos do curso de Música Eletrónica e Produção Musical da Escola Superior de Artes Aplicadas (ESART), de Castelo Branco, que na noite de quinta-feira subiu ao palco para apresentar o trabalho desenvolvido.
Gustavo Costa chamou ainda a atenção para “a reflexão sobre o som e a importância que tem nas nossas vidas, porque nos faz redescobrir a cidade onde vivemos”. Tudo, porque “quando saímos à rua somos bombardeados visualmente, mas, muitas vezes não prestamos atenção aos sons”.
Defende que o projeto “serve para reinventar as cidades”, dando como prova disso o Porto, onde reside, ao afirmar que “consegui redescobrir locais. Os sons estavam lá, mas nunca tinha prestado atenção”, para concluir que quando o fez “a redescoberta foi fascinante”, o que se aplica “a qualquer pessoa que preste atenção aos sons que a rodeiam”.
A partir de agora esses sons podem ser ouvidos em www.phonambient.com, sendo que no respeitante a Castelo Branco, entre outros sons é possível ouvir alguns bem característicos da cidade como o do sino da Torre do Relógio, ou o da Sé.
Alexandre Rodrigues, que é um dos elementos da Phonorquestra, afirmou que nesta orquestra “temos os nossos computadores a fazer som, com o maestro, Gustavo Costa, a coordenar-nos a todos, como numa orquestra normal”.
Assegura que aprendeu “muito” neste projeto, mais concretamente “na parte das gravações, ao trabalhar com instrumentos de captação, mas também na parte da performance”.
Opinião que também é sustentada por outro membro da Phonorquestra, Ricardo Nunes, ao avançar que “além da performance, aprendemos sempre alguma coisa”.
Questionado se os sons dão realmente para identificar uma cidade, Ricardo Nunes afirma que “Castelo Branco tem coisas muito características, como têm outras cidades” e garante que “dá para entender as diferenças, dá para entender a cidade em que estamos”.