ANTONIETA GARCIA
Rimance da UE
Olha a União Europeia,
Que traz tanto que contar!
Ouvi, agora, senhores,
Uma história de assombrar.
Eram vinte e oito países
Que se queriam casar.
Uns estavam enamorados,
Outros queriam aforrar.
Um ministro aos caracóis,
Magrito, de mau feitio,
Invejava os do sul:
Meteu-os num só navio.
E soltou tanto malquerer,
Em palavras descorteses
Vergonhosas, vis… e à farta
Que um tiro mais que certeiro
Lhe saiu pela culatra.
Azoou o puritano enfatuado de si:
- Pagamos copos, mulheres
Aos da preguiça sem fim…
- Quem fez estradas, hospitais
Escolas, saneamento?
O país estava no fundo.
O euro voava louco,
Como haviam de poupar?
E os fundos da Europa
Não foram coisa mesquinha.
Juros trepam desdenhosos
E é um Deus nos acuda!
A formiga, asinha, asinha
Perdida naquela lenda
Do trabalho e do tostão
Bem louva a Santa Valia!
Corre, corre, formiguinha.
Nas terras de Portugal,
Sol-e-dó mais melodia
Zangam países do norte:
- Os latinos são uma praga!
Malandrins vivem felizes.
Que é do norte, do seu norte?
Acabe-se-lhes com a sorte!
Sem resguardarem a inveja,
Louvam virtudes geradas
Por autoestima imprudente.
Com um golpe petulante
Impõem austeridade.
Avaros, sobem os juros,
Diminuem rendimentos,
Multiplicam desempregos
Tiram o pão a quem podem.
E de maldade em maldade
Despovoam regiões,
Já lançam golos de fel,
Veneno de intrujões,
Peçonha de trapaceiros,
Nos lares de quem só tem
Um real para comer mal…
Uma gentalha velhaca
Trucida, louca, o futuro.
E com azedume duro
Decide que o povo aguenta
Malfeitorias, soberbas
Altivez, sobrancerias…
Soa o grito em Espanha,
E em terras de Portugal
- Acima, acima ministros,
Acima ao topo real!
Se não vos faltar a fúria,
Renasceremos das cinzas.
Já vejo muitas donzelas,
Padeiras e tecedeiras
Penélopes ao luar.
Tecem o fio tão fino
De velha tapeçaria
Que nunca há de acabar.
Vejo muitos sonhadores,
Em demanda de utopia!
E vejo as três meninas,
Itália, Grécia e a Espanha,
A acenar com Portugal.
Todas são nações formosas
A quem furtam o futuro.
A Inglaterra afastou-se,
Que deixou de ser quem era.
Receios da França culta,
Da Holanda e da Polónia
Chegam para assustar.
A Turquia esquivou-se
Para os braços de Putin,
O Reino Unido que espera?
Eram vinte e oito países
Que se quiseram casar.
Uns tinham as arcas cheias
Outros, fome a suportar.
E na Europa fraterna
Louvam-se senhores mercados
Falam inglês! - É a língua!
Salve-me eu e os meus…
- Os outros morrem à míngua?
Assim, conquistam os céus!
Que venha a Nau Catrineta,
Para nela embarcarem,
Três meninas tão formosas,
Itália, a Grécia e a Espanha,
A acenar com Portugal.
Em busca de bons afetos
Por esse mundo de Deus,
Irão em boa maré.
- Desejam Vossa mercês
Punir latinos lascivos?
Com saberes e vontade
Boémia, trovas, bailias…
E tudo o que mais apraz,
Hão de rir dia após dia,
Da “massa” que faz forretas:
Uns honram a alegria,
Outros alinham em tretas.
Cheiinhos de danação
Ficam verdes de agonia…
Olhem a Nau Catrineta,
Que traz tanto que contar
O Reino Unido saiu.
Holandeses, de soslaio,
Tentaram o mesmo golpe.
E a menina Marine,
A francesa curandeira,
De emigrantes e pobretes.
Ai! Se lhe vão na conversa,
Põe-nos todos a esmolar,
A carpir, a prantear,
O voto de maldição.
Que marés, ventos, correntes
São capazes de enfrentar?
Estava a noite a cair,
E a Nau no cais a varar...
- Ó da barca! Velejemos
“Que temos gentil maré…”