Fernando Raposo
2017, UM ANO DE CONTRARIEDADES!
2017, que agora se aproxima do fim, foi um ano de contrariedades. Não tivesse ocorrido a tragédia dos incêndios, que arrastou consigo mais de uma centena de mortos e consumiu mais de 500 mil hectares, e o ano teria corrido de feição.
Tendo em conta os dados do 1º trimestre e a confirmarem-se os dados relativos ao 2º, recentemente divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística, a economia apresentará o melhor desempenho da última década, muito acima das expectativas iniciais do governo. Sublinhe-se que Mário Centeno tinha previsto, para este ano, um crescimento de 1,5%, sendo que ele poderá situar-se acima dos 2,2%, portanto mais 0,7%.
Para essa melhoria do desempenho da economia terão contribuído não só as exportações mas também o consumo interno, tendo em conta um maior poder de compra dos portugueses, em virtude da reposição dos vencimentos dos funcionários públicos e dos reformados, e também do aumento do emprego.
A par do crescimento económico e do aumento da taxa de emprego, Portugal viu a sua dívida (apesar de se situar acima dos 126% do PIB) sair de “lixo”, pelas avaliações das agências de rating Standard & Poor’s e da Fitch, o que é um excelente indicador para a retoma de confiança dos investidores.
Ainda com as contas por encerrar, tudo leva a crer que o défice deste ano não ficará muito aquém do estimado inicialmente pelo governo, ou seja 1,5%, cumprindo assim a meta do equilíbrio orçamental traçada por Bruxelas,
A par do cepticismo inicial, os parceiros do Euro reconhecem agora que Portugal está no bom caminho, premiando o país com a eleição do seu ministro das finanças, Mário Centeno, como presidente do Eurogrupo.
Apesar do sucesso económico alcançado, o país debate-se com inúmeros problemas de natureza estrutural, cuja premente necessidade de resolução tem sido, constantemente adiada. Sabe-se lá por que razões!
A tragédia dos incêndios é disso consequência. Abandonaram-se os campos e os lugares onde antes havia hortas e pomares encheram-se de eucaliptos e de mato, terreno fértil à propagação das chamas. Não fossem as vítimas da tragédia deste ano e o país não se teria dado conta, uma vez mais, do abandono a que foram votadas as terras do nosso interior.
Agora todos clamam pelo reordenamento da floresta e da revitalização do interior. Pois é! …
Mas para isso é preciso valorizar o trabalho do campo, dotar novamente as aldeias, vilas e cidades dos serviços que lhes foram retirados, atrair investidores e criar empregos qualificados, …
Muitos dos que por aqui nasceram e foram criados, e que tiveram de partir à procura de emprego, hoje não querem regressar. O médico vive longe das suas aldeias, o posto dos CTT encerrou e a “camioneta da carreira” que antes fazia a ligação com a vila ou a cidade mais próximas já por lá não passa.
É preciso repensar o interior, reordenar o país no seu todo e em todas as suas dimensões, racionalizar a oferta de serviços, mesmo que para isso tenham de ser contrariados os interesses corporativos instalados.
Todos temos consciência, e já aqui o escrevi em Novembro de 2012, que “o país foi crescendo de forma desordenada. Nunca, ou raramente, obedecendo a um plano de desenvolvimento integrado do país que fosse analisado, discutido e amplamente consensualizado. Esse crescimento foi sendo condicionado, umas vezes por impulsos de natureza corporativa, outras por lógicas de cumplicidade partidária e calendários eleitorais”.
Agora que António Costa se prepara para levar a cabo a descentralização por via do reforço das competências e recursos das autarquias, seria prudente que antes ponderasse, com os partidos e parceiros sociais, a definição de uma estratégia de desenvolvimento harmonioso e equilibrado de todo o território nacional, tomando como referência, enquanto unidades territoriais e administrativas, as áreas metropolitanas e as comunidades urbanas, dotando-as de competências e recursos próprios, devendo os seus órgão ser eleitos directamente pelas populações.
E então sim, só depois, descentralizar…