21 de fevereiro de 2018

Maria de Lurdes Gouveia Barata
ESCREVER EM FEVEREIRO…

Estamos no Carnaval neste momento em que escrevo, o samba entra na casa a motivar o haja folia, fico a ouvir, a olhar os cortejos de várias terras portuguesas, fico a pensar que escrever sobre esta efeméride pode ser interessante, pode ser cansativo e de repente deixa de me apetecer… Não sei sobre o que hei-de escrever…
Cruzam-se as ideias, reflicto sobre um outro Carnaval metafórico, o dos dias que passam e não são efeméride. Assalta-me a frase isto dá para rir, quando alguma medida ou algum evento se tornam tão inacreditáveis, ou insólitos, ou ridículos, que as notícias nos oferecem, caindo-nos em cima. É isso mesmo, caem-nos em cima.
Uma das minhas amigas diz a rir agora os corruptos ocupam-me o tempo… É, na verdade, um tema inesgotável, pergunto-me mesmo, com sempre novas descobertas de corruptos, se Portugal não é país de corruptos, não gosto da ideia, não são todos iguais, animo-me assim.
Confesso frequentemente não ter confiança na justiça e isso causa-me inquietação, porque uma justiça de funil – liberal para uns, restritiva para outros –, duas medidas utilizadas por quem é cego (caso da justiça). No entanto é sempre mediada por um juiz que não é cego, cujo olhar pode ser atraído por elementos enganadores. Pode distrair-se e atrasar-se, como na história da tartaruga e da lebre. A morosidade da justiça despe-lhe os trajes de justa e pode torna-la quase uma palhacinha de Carnaval, que dança ao som da música e se entretém no meio dessa dança (é para quem pode!) e vai obrigando a desistir os que a reclamam. É lenta e cara, torna-se distante para o cidadão comum que começa a pensar não valer a pena… Bob Dylan disse que se sentia envergonhado por viver num mundo onde a justiça era um jogo…
A televisão trouxe-me agora, no Carnaval de Torres Vedras, a figura gozada de Donald Trump. Eu sorrio associando-lhe o humor daquela asserção a propósito do Carnaval: «És tão feio, tão feio, tão feio que, quando fores comprar uma máscara de Carnaval, só te vendem os elásticos». As pessoas vão tirando a máscara a este enganoso mascarado. Lembra-me Vergílio Ferreira: «Que ideia a de que no Carnaval as pessoas se mascaram. No Carnaval desmascaram-se». Pelo menos, o gozo de Carnaval põe em destaque certas figuras para as desmascarar.
Isto é um Carnaval! proclama-se por aí quando a injustiça, a corrupção, a ignorância das alterações do clima, a poluição (estou mesmo a lembrar-me da escandalosa poluição do Tejo de há poucos dias, do apuramento das causas através de análises, do acto de remeter para segredo de justiça os resultados – lá voltamos à justiça, isto é mesmo um Carnaval!), a decisão sobre o novo acordo ortográfico (feita de Cima para baixo, sem atender à vítima – a língua – que transformaram sem provas em arguida, com abuso e com pressa passando ao trânsito em julgado…), a prepotência de poderosos que fazem imperar as suas ganâncias… tudo parece mesmo um Carnaval, conferindo-se, porém, que não estão a brincar ao Carnaval.
E não me decidi por desenvolver nenhum tema, não sabia o que havia de escrever no momento em que queria escrever e fico-me a pensar nos Entrudos que assustam os dias e nos falsos Caretos de Portugal, mas vou ver os Entrudos de Carnaval e não escrevo mais.

21/02/2018
 

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