Edição nº 1774 - 4 de janeiro de 2023

Valter Lemos
OS GRANDES ACONTECIMENTOS DE 2022

A INVASÃO NA UCRÂNIA
Não sendo completamente imprevisível a invasão da Ucrânia foi, apesar de tudo, surpreendente para a maioria dos europeus e do mundo em geral. Putin no alto da sua autocracia e face à débil resposta à anterior invasão da Crimeia, resolveu subir a fasquia da reconstituição do império soviético. A tentativa de invasão da Ucrânia teve, no entanto, uma resposta surpreendente do próprio povo e estado ucraniano e da Europa e dos EUA e também de grande parte do mundo. Tal levou a que, um ano depois, se possa dizer que, até ao momento, do ponto de vista militar a “operação especial” de Putin foi um fracasso. Mas com gravíssimas consequências. Desde logo as inúmeras vítimas civis ucranianas, o êxodo de milhões e a brutal destruição de cidades inteiras e de infraestruturas, mas também as inúmeras vítimas militares, dos dois lados, que se contam por dezenas de milhares de mortos.
Mas as consequências da guerra da Ucrânia são também muito graves do ponto de vista económico. A queda do comércio internacional, a crise de alimentos e a subida dos preços das matérias-primas e a assustadora inflação assim originada tornaram 2022 um “annus horribilis” para uma parte significativa do mundo e também para a própria Rússia cujo PIB teve a maior queda desde há largos anos.
Mas também na dimensão política as consequências da decisão de Putin são enormes. A integração da Rússia no comércio mundial foi radicalmente condicionada e a ordem económica internacional assente no comércio livre e na globalização foi interrompida e já nunca poderá ser como antes. Mas também do ponto de vista geopolítico tudo se alterou. Na verdade, a Rússia tinha algumas razões de queixa no que respeita à expansão da Nato na direção das suas fronteiras, mas a ação de Putin provocou uma aceleração desse processo. A entrada da Suécia e da Finlândia na Nato são uma consequência direta da invasão da Ucrânia. Foi Putin quem pôs a Suécia e a Finlândia na Nato. Quem poderia prevê-lo? Mas não só. Porque se a Nato não se expandiu ainda mais, tal deveu-se só à própria atitude de sensatez e cautela que Putin não teve, pois, diversos outros países, incluindo a própria Ucrânia, demonstraram o seu desejo de integração.

A REVOLTA NO IRÃO
Os protestos e manifestações no Irão são outro acontecimento pouco previsível de 2022. O regime iraniano não é só uma autocracia, é uma verdadeira tirania imposta a um grande povo, com uma civilização e uma cultura milenares. O espancamento e a morte de mulheres por não usarem um véu a cobrir todo o cabelo é um comportamento bárbaro, a todos os títulos inaceitável, contrário à mais elementar noção de humanidade e aproximando-se muito da pura maldade. Os protestos que têm lugar há meses, mostram bem o descontentamento do povo com a barbaridade do regime e a superioridade cultural do povo face aos seus dirigentes.
A reação destes com a prisão e a condenação à morte de diversos manifestantes só confirma a sua completa falta de humanidade e a bestialidade do seu comportamento.
As mulheres e todo o povo iraniano bem merecem o apoio incondicional de todos os que defendem o respeito pela condição humana como um valor universal. É preciso mostrar e evidenciar quão abomináveis são os dirigentes que matam e mandam matar sem o mínimo respeito pela condição humana.
As notícias sobre o Afeganistão e a proibição das mulheres poderem estudar ou trabalhar só reforça a absoluta necessidade de pressão sobre tais regimes e tais dirigentes.

A QUEDA DO BOLSONARISMO
O outro acontecimento deveras importante foi a derrota de Bolsonaro no Brasil. Os brasileiros chutaram Bolsonaro para junto do seu amigo Trump. Foi mais uma importante derrota dos inimigos da democracia nos países democráticos. Dos que não se conformam com as regras dos estados de direito.
Como má imitação de Trump, que sempre mostrou ser, também ensaiou uma farsa pífia para a sua derrota, com apoiantes nas ruas a pedir a intervenção do exército, ou seja, a destruição do regime democrático. Também como Trump, mostrou a sua menoridade política, cívica e mental ao não comparecer à cerimónia de posse do seu sucessor, envergonhando o país e os eleitores.
Bolsonaro, como Trump, mostraram ser afinal figuras de fraquíssimo nível, quer político, quer cívico, quer cultural, cujo papel foi essencialmente enfraquecer a direita democrática. À medida que o tempo passa torna-se mais nítida a falta de estofo disfarçada por alguns histerismos políticos, parecendo meras figuras de ópera bufa.
Espera-se que a direita tenha aprendido alguma coisa com as experiências de Trump e Bolsonaro. Porque a solução para a democracia não é ter, também à esquerda, outros políticos histéricos e operáticos, para contrapor. A solução é ter em cada lado políticos com caráter, com estofo e com saber, para pensar e fazer pensar o povo.

04/01/2023
 

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