Lopes Marcelo
CONGRESSO DE ARQUEOLOGIA
No âmbito da Sociedade dos Amigos do Museu Tavares Proença Júnior, Associação Cultural sem fins lucrativos que congrega a acção voluntária e solidária de dezenas de cidadãs e cidadãos no apoio ao Museu e na valorização do património cultural, vai ser realizado mais um Congresso de Arqueologia.
Por um lado, a Sociedade dos Amigos foi de grande e estratégica importância nos primeiros anos da existência do Museu suportando a sociedade civil de então a primeira organização ainda embrionária e frágil do Museu. Mais recentemente, na última década, voltou à actividade centrando no Museu a valorização patrimonial do território da Beira Baixa e reforçando os laços culturais com os territórios vizinhos, nomeadamente os da raia dos dois lados da fronteira. Assim, comemorou no ano passado o centenário da sua criação consolidando os laços indissociáveis com a notável instituição de âmbito regional que é o Museu.
A vertente essencial e fundacional do Museu foi a arqueologia, coroando a extraordinária dedicação e investigação iniciada em 1903 no Monte de São Martinho, dirigida pelo seu fundador o albicastrense Francisco Tavares Júnior. Assim, a revisitação do território do Monte de São Martinho ganha enorme actualidade e pertinência visando dar continuidade à investigação e consolidar o património arqueológico local, que é a matriz fundadora do povoamento em que se gerou e moldou o território humanizado em que se enraizou a Comunidade Albicatrense. Na actualidade a base do Monte de São Martinho é ocupada por quintas e quintinhas preenchidas por vivendas e hortas, onde ficam situados alguns sítios e monumentos escavados, que não foram devidamente assinalados e preservados. Agora é praticamente apenas chão, mais ou menos produtivo, mas sem a dimensão de território com as marcas da viagem cultural de sucessivas gerações. Ainda se podem observar sepulturas talhadas na rocha, um sítio arqueológico à espera da continuação de escavações e locais onde foram recolhidas estelas e o men-hir que é o monumento mais significativo e representativo da ocupação humana entre 3500 a 4000 anos antes de Cristo. A força histórica deste território não pode deixar indiferente a Sociedade dos Amigos do Museu, a Câmara Municipal, o proprietário do Monte Dr. António Abrunhosa e as instituições de investigação, designadamente a Universidade de Coimbra. Acredito que todos colaborarão num projecto integrado de valorização patrimonial da nossa Identidade histórica.
Um dos pontos altos da mobilização de vontades vai ser a realização no próximo mês de Abril a 10, 11 e 12 do II Congresso Internacional de Arqueologia integrado na comemoração dos 100 anos da Sociedade dos Amigos do nosso Museu. No Fim-de-semana a seguir à Páscoa, a nossa cidade receberá dezenas de investigadores que enriquecerão a pauta da matriz do nosso território, dialogando com todos na vibração e valorização da cidadania cultural. De facto, divulgar as dinâmicas de investigação e valorização patrimonial do território numa dimensão transfronteiriça; valorizar e reafirmar o património arqueológico enquanto expressão identitária regional e celebrar a memória e o reconhecimento do fundador da arqueologia regional e do Museu, não deixará ninguém indiferente.