EM DEBATE
Cooperativa Portuguesa defende cultivo do medronheiro nos espaços destruídos pelos incêndios
A Cooperativa Portuguesa do Medronho (CPM), com sede em Proença-a-Nova, defende o cultivo do medronheiro e de outras espécies autóctones nos espaços florestais destruídos pelos incêndios.
“O medronheiro surge com uma das espécies mediterrânicas mais bem adaptadas ao nosso clima e aos nossos solos”, refere o presidente da direção da CPM, Carlos Fonseca.
Nas áreas ardidas, o medronheiro (Arbutus unedo) “é das primeiras espécies nativas que se regenera, protegendo também desta forma o solo”, acrescentou.
“Enquanto espécie nativa mediterrânica, é uma das plantas mais bem adaptadas ao fenómeno dos incêndios, a par do sobreiro e de alguns carvalhos, além de ser uma planta rústica, que tanto tolera a falta de água como o frio”, afirmou, frisando que a sua existência em Portugal, há milhões de anos, “permitiu uma coevolução num ecossistema em que os fogos naturais são uma realidade”.
À passagem do fogo, “o medronheiro é geralmente uma das espécies que mais rapidamente recupera e regenera, rebentado desde a base do tronco ou da raiz e contribuindo para a prote-ção e reabilitação do solo”, segundo Carlos Fonseca.
“O fomento de espécies como o medronheiro, em consociação ou não com outras espécies arbóreas e arbustivas, representa um positivo contributo para a sustentabilidade ecológica e ambiental dos ecossistemas mediterrânicos e para a valorização económica dos nossos territórios e funciona, sem dúvida, como uma solução contracorrente nos tempos pós-incêndios que se avizinham”, preconizou.
Face à calamidade dos incêndios florestais, que “invade ciclicamente o país de norte a sul”, são cada vez mais “as vozes que evidenciam a necessidade urgente de melhor e mais eficaz or-denamento e gestão florestais”, ajudando à prevenção dos fogos.
“Anualmente, são milhares os hectares de floresta e matos destruídos no nosso país pelos incêndios, tornando mais pobres os solos, a paisagem, a biodiversidade e parte das pessoas que vivem nos territórios ardidos”, sublinhou o presidente da Cooperativa Portuguesa do Medronho.
Ano após ano, as estatísticas “demonstram que é nas regiões de minifúndio que ocorrem mais ignições e onde os incêndios são maiores” em termos de área queimada.
“Também as espécies de rápido crescimento, quase todas exóticas, são as mais devastadas pelos incêndios, enquanto as espécies nativas, arbustivas e arbóreas são as menos afetadas”, sublinhou.
Defendendo que importa “entender o que irá acontecer no pós-incêndios”, o biólogo disse que Portugal “apresenta fundamentalmente dois padrões em termos de dimensão da propriedade rústica”: o latifúndio, associado a parte da Beira Baixa, Ribatejo e Alentejo, e o minifúndio, que predomina no resto do país.
“Mais recentemente, o medronheiro tem vindo a ser encarado pelos proprietários rurais de várias regiões do país, com especial destaque para o Centro e o Algarve, como uma mais-valia económica à qual se associa um elevado valor ecológico e ambiental”, enfatizou.
As plantações de medronheiro, com diferentes áreas, “funcionam como autênticos mosaicos de fragmentação de manchas florestais contínuas, contribuindo por si só para a descontinuidade florestal” e para a prevenção dos fogos.
“O medronheiro é uma das espécies arbustivas que atualmente apresenta um maior potencial económico, principalmente devido às múltiplas utilizações do seu fruto”, disse.
Carlos Fonseca enumerou a importância do medronho na produção de bebidas e derivados, o consumo como fruto fresco ou sumo, além da sua aplicação em iogurtes, compotas, pastelaria, cosmética, medicina e nutricionismo, entre outras utilizações.