25 de julho de 2018

Fernando Raposo
COMO EU COMPREENDO AGORA ANTÓNIO GUTERRES!

Aquela tarde de inverno fora longa, demasiado longa. Ao fecho das urnas, confirmou-se: uma derrota pesada para o PS. No largo do Rato, o ar era tenso e denso. O Povo fora implacável para o partido de Guterres. Perdera Lisboa e Porto e muitas outras cidades importantes, como Coimbra, Faro, Sintra e Setúbal.
Naquela noite de 16 de Dezembro, de 2001, sob o olhar sereno de Almeida Santos, Guterres, cansado das intrigas internas, triste, anunciou ao país a sua demissão: “Com inteira lucidez devo reconhecer que, se nada fizesse (…), o país cairia inevitavelmente num pântano político” (Luís Claro, jornal i, 15/10/2015).
Para surpresa dos que lhe eram mais próximos, Guterres fora irredutível. Chegava assim ao fim, sem honra e sem glória, o XIV Governo Constitucional.
Passados todos estes anos, aquilo que eu não percebera na altura, e certamente muitos como eu, ganha agora maior sentido e clareza. Não compreendera à data, confesso, o alcance e profundidade das razões de António Guterres.
Eu, que sempre o admirei, e continuo a admirar, pela sua inteligência e nobreza de caráter, devo reconhecer que a sua demissão me deixou uma enorme frustração. Mas hoje, passados já tantos anos, e depois do que todos conhecemos, dou-lhe toda a razão.
Nas palavras sábias do povo, anónimo e simples, este é um “país que não se governa, nem se deixa governar”. A cada dia que passa somos surpreendidos por mais um “vilão”, que não se poupou a esforços para “encanar a perna à rã”.
Quando menos se esperava, eis que, de repente, corre notícia: na recuperação das casas ardidas de Pedrógão Grande, uns sacanas se aproveitaram da generosidade dos portugueses, para benefício próprio. Valeu-lhes a mudança de domicílio fiscal, já depois dos incêndios, para que a verificação dos “papéis”, qual melhor elemento de prova, fosse suficiente para justificar, à conta do erário público, a recuperação de casas que nem sequer arderam. Diz-se que o desvio, por uso deste expediente, é de meio milhão de euros. É muito dinheiro. Só pode ser coisa de gentalha.
Muitos daqueles que perderam efetivamente as casas onde viviam, aguardam ainda pacientemente. Talvez para o próximo Natal, ou para outro, quem sabe, a casa esteja pronta. Estes que esperam são pessoas simples, que não sabem de papéis. São pessoas simples do povo, e o povo, mais uma e outra vez, que se lixe!
Se a gente simples do povo soubesse lidar com papéis e usar expediente ardiloso, estaria hoje rica e, quem sabe, teria aforro para a velhice, escondido por aí algures num qualquer offshore, que é coisa de gente fina.
Imitando Pinho, que, corre a notícia, terá usado de expediente, enquanto governante, para beneficiar quem lhe “botara” na conta, todos os meses, quantia muito apreciável. E quem lhe untara as mãos foi pessoa muito importante, mais importante que o povo todo junto. Diz, quem estava na política, no mundo da finança e da economia, que o homem era um DEUS. Era “dono disto tudo”, o que se comprovou quando “lixou” o povo que depositara na sua banca as poupanças de uma vida.
Ao que se diz, já antes fizera com tantos outros, o mesmo que fizera com Pinho.
Sabe-se ainda muito pouco, e o que se sabe é o que se diz na imprensa, mas o bastante para que o povo saiba agora que o pântano de que falava Guterres é bem mais extenso e profundo, fruto da relação promíscua entre a política e os interesses de alguns, mas nunca os da gente simples do povo que não sabe lidar com os papéis e usar expediente ardiloso.
Como eu compreendo agora António Guterres!...

25/07/2018
 

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