19 de dezembro de 2018

Maria de Lurdes Gouveia Barata
AS LUZES DE NATAL

Acenderam-se as luzes de Natal! Absorvem-nas os olhos e entram no coração. Chega esta época e lembra-me a minha grande amiga, que já partiu para uma outra luz, e me dizia entusiasmada: as luzes de Natal acenderam-se cá em Lisboa, vou meter-me no autocarro e vou usufruí-las todas! Não calculas como gosto das luzes de Natal! Às vezes até me comovo… E repetia a viagem pelas luzes e uma vez que estávamos juntas em Lisboa levou-me por esse caminho luminoso e mudámos algumas vezes de autocarro para desfrutar a beleza, enquanto tagarelávamos sobre tempos outros, já longe alguns, roçando pela infância do aconchego das lareiras da aldeia, as chamas subindo e aquecendo e o breu da noite lá fora. E tínhamos os momentos de silêncio só para olhar as luzes, as cores das luzes, os arabescos das decorações e elegíamos as melhores como se fôssemos júri de concurso. Encontro-a sempre nas iluminações natalícias com o seu olhar extasiado a reflectir o encanto do belo, com o sorriso infantil do fascínio. E eu olho as luzes de Natal que me seduzem como um sortilégio de ritual e de evocação.
Gosto das luzes azuis do centro da nossa cidade, pequeninas, modelando troncos e arbustos e subindo, brancas, numa árvore de Natal esguia e altaneira para o céu. É um sentir de frio de noites de caramelo e de estrela de Belém. Não as acho tristes, como já ouvi dizer a alguém, sinto-as como suave emanação espiritual. As luzes de Natal associam-se a uma época de apelo a bons sentimentos, por vezes perdidos numa zoada fútil.
A luz chama uma simbologia do Bem, o belo da contemplação da Natureza solar, unindo-se à ideia de um Menino Deus, salvador dos homens. Não é o sol fonte de vida? Lugar comum que veicula a ideia duma força, a da luz, que dá e tira a vida. Corre nas expressões usuais como dar à luz (dar à vida) e no seu antónimo fechar os olhos à luz com a morte que tira a vida. E a luz, porque é vida, torna-se fecundante e criadora. Perder a luz liga-se a cegueira, a um fechar os olhos à luz que emana da Natureza. Instala-se a ideia antinómica luz / trevas e vida / morte. Somos ainda conduzidos a outra dualidade, conhecimento / ignorância, daí que da discussão nasce a luz ou que lançar luz sobre um assunto seja caminho de compreensão.
Desde sempre a luz associa-se a divindade, seja na manifestação, aparições ou sinais, seja em ascensão celeste. A auréola na cabeça dos anjos e dos santos é também exemplo. A luz transforma-se em amor, um amor abrangente como o de um Deus omnipotente, é símbolo de tudo o que é superior. A visão clara é a consciência, que na compreensão e no conhecimento, leva à sabedoria.
Nas metáforas de luz podemos integrar o Bem dos que reconhecem a sua humanidade sendo solidários, fraternos com os semelhantes, havendo o lado sombrio dos homens entregues ao ódio e fazedores de guerra. A Idade Média ficou conhecida como Idade das Trevas ou a longa noite de mil anos, porque a cultura foi controlada pela Igreja Católica fazendo diminuir os avanços da arte e da ciência, dizendo muitos historiadores que foi sombria por irracionalidade e atraso e mesmo por decadência cultural. Há, no entanto, outros que contradizem essa denominação, considerando-a injusta. Mas não é momento de discutir a História, tão somente apontar um modo de nomear que utiliza trevas em oposição a luz. Treme a luz do planeta Terra devido à ofensiva do homem que já colhe frutos podres da sua acção egoísta. O mais preocupante centra-se nas alterações climáticas. Há provas, mesmo que alguns tentem escondê-las. Já que estamos no Natal, refiro a terra do Pai Natal, que perde a luminosidade da neve da tradição: a vila turística de Rovaniemi, capital da Lapónia, está a perder toda a magia de “paraíso de inverno”, devido às temperaturas atípicas que se registam perto do Círculo Polar Árctico - todos os anos, naquela região, uma camada de neve com cerca de 20 a 30 centímetros de altura começa a formar-se nos finais de Novembro, sendo que o território fica coberto de neve durante mais de metade do ano. Nos últimos dias, porém, a vila tem visto “amostras” de neve com apenas uns centímetros e dispersas. São notícias que nos chegam. A indiferença face às alterações climáticas não traz luz ao fundo do túnel, mas trevas…
Porém, voltemos às luzes de Natal, que nos piscam olhinhos sedutores, reflectindo-se mágicas nos olhos de miúdos e graúdos, transformando-se num feitiço de maravilhamento…

19/12/2018
 

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