João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
EXISTEM PAÍSES que parecem ter sido amaldiçoados pelos deuses. É o caso de Haiti, o mais pobre dos países do continente americano. Com a grande maioria do povo abaixo dos limites da pobreza, com tudo o que isso significa ao nível da nutrição, saúde e índices de mortalidade infantil. Um cenário que se arrasta já desde longa, longa data, dos tempos da liderança da família Duvalier que, com o apoio americano, em contexto de guerra fria, impôs durante décadas uma feroz ditadura suportada pelos tristemente famosos tontons macoutes. E a política dos que se seguiram foi sendo sempre pautada por instabilidade e muita corrupção, que culminou há poucos meses com o assassinato do presidente eleito, por um grupo de mercenários a mando de não se sabe bem quem. E se ação humana é, desta forma, tão destrutiva, o que dizer das forças da natureza? São as tempestades tropicais devastadoras e acima de tudo os sismos que de forma cíclica têm levado a destruição à ilha, que pela sua beleza os franceses denominavam de pérola das Antilhas. Ainda o Haiti não estava recuperado do grande sismo de 2010 que destruiu 80 por cento da capital e deixou um rasto de mais de 300 mil mortos, acontece agora novo grande sismo, com danos que não estão ainda contabilizados, mas que ultrapassam os dois mil mortos. E estão a decorrer operações de resgate, quando se segue a ameaça da tempestade tropical Grace. Há países que parecem amaldiçoados. Que necessitam de toda a solidariedade e ajuda possíveis. Mesmo sabendo garantidamente que a corrupção endémica vai desviar uma parcela importante da ajuda a quem maisdel a necessita.
PORTUGAL É O QUARTO PAÍS DO MUNDO com mais população vacinada. E se forem considerados apenas os países com mais de 500 mil habitantes, então sobe para o segundo lugar. Um estupendo trabalho que deu resultados, que permitiu a antecipação do início da segunda fase de desconfinamento. O sucesso deve-se também à atitude pró-vacinação da imensa maioria dos portugueses, perceção ainda mais reforçada agora, quando os adolescentes, acompanhados dos pais, têm acorrido aos centros de vacinação em número superior às melhores expetativas. Porque é que, ao contrário de outros países, os portugueses aderiram desta forma tão clara ao processo? O jornal Público titula que a explicação pode ser encontrada na memória coletiva do tempo em que o sarampo e a poliomielite matavam. Parece-nos que a explicação reside principalmente na confiança que os portugueses manifestam nas autoridades, no Serviço Nacional de Saúde, considerada a joia da coroa portuguesa, e também no reconhecimento do excelente trabalho de coordenação desenvolvido pelo vice-almirante Gouveia e Melo. Uma personalidade que inspira confiança e simpatia, como mostra a espontânea salva de palmas com que foi recebido pelos adolescentes na visita a um dos centros de vacinação.