João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
EM GRANDE PARTE DO MUNDO comemora-se hoje (14 de fevereiro), dia em que escrevo esta crónica, o Dia dos Namorados, o Dia de São Valentim na tradição anglo-saxónica. O fenómeno do enamoramento que foi objeto de estudo e vertido em livro, Enamoramento e Amor, que já é clássico do sociólogo italiano Francesco Alberoni será o estado nascente de um movimento coletivo a dois, nas palavras do autor, que tanto pode ter um final feliz como, pelo contrário, conduzir a um ponto que fica muito mais além da rutura marcada pelo fim do encantamento. Infelizmente, nem sempre o namoro é uma imagem romântica, antes imagem de violência e terror, relações tóxicas, pontuadas por momentos de violência psicológica e mesmo física sobre a vítima, maioritariamente feminina. É uma situação que acontece também em namoros adolescentes, sendo identificado como um problema de tal relevância que, por iniciativa do Ministério da Educação e da PSP, todos os anos se promovem ações de sensibilização nas escolas. Porque as seis queixas diárias, em média, que a PSP recebe de comportamentos violentos no namoro, maioritariamente de jovens com menos de 25 anos, não se podem desvalorizar. Por isso, consideramos completamente inaceitável que um canal de televisão privado e generalista, permita e aceite (talvez até estimule) em nome das audiências, que estes atos graves de violência física e psicológica aconteçam num popular programa reality show com pseudo-famosos, acessível a crianças e jovens. O que se vê no ecrã, sem qualquer condenação dos responsáveis do programa, pode ser considerado uma forma de normalização do comportamento do agressor, ou pelo menos pode ser visto como tal por um bom grupo de jovens e adultos. Em defesa do bom gosto, da inteligência e da saúde mental, em boa verdade não vejo este como outros programas semelhantes, mas que não se conseguem ignorar totalmente, por alimentarem as redes sociais e as capas das revistas da especialidade, no caso presente com muita gente indignada e, sendo crime público, também com denúncia ao Ministério Publico pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género. No banco dos réus deveria estar o malfeitor e o meio de Comunicação Social que permitiu a malfeitoria e a divulgou em benefício próprio.
GRAVE É TAMBÉM O QUE ACONTECEU na contagem dos votos dos emigrantes, os que vivem na Europa. Muito difícil aceitar que nada menos que 80 por cento dos votos, tenham ido para o lixo, invalidados. É natural que estes eleitores se sintam insultados e desprezados, ainda para mais quando respondeu de forma tão positiva aos apelos na participação eleitoral. E o que sucedeu foi culpa de muitos. Daqueles que não tiveram tempo de adequar a lei eleitoral às realidades atuais sendo já um problema reconhecido de anteriores votações. Dos que, depois de terem aprovado com todos os outros partidos a validação dos votos, mesmo que sem cópia do documento de identificação, fizeram marcha atrás durante a contagem dos votos e recorrem agora para a justiça, provocando a anulação de mais de 150 mil votos. E é claramente despropositada a acusação por parte do ainda líder do PSD, expressa no Twitter, de que se isto passasse seria como vivermos numa república socialista das bananas. Assim não.