João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
ESTA SEMANA FOI NOTÍCIA que chocou meio mundo: numa cidade espanhola, um idoso foi encontrado em casa, após 15 anos do seu falecimento. Neste período de tempo ninguém sentiu a sua falta, os vizinhos, os dois filhos e a ex-mulher. E presume-se que não teria amigos. A velhice é tramada, costuma-se dizer, principalmente quando ela é vivida em solidão. A solidão que mata. Sabe-se que está associada a um aumento de mortalidade e a tendências suicidárias.
O que aconteceu naquela cidade espanhola, podia ter acontecido numa grande cidade portuguesa, como Lisboa, onde os contactos sociais de vizinhança muitas vezes se reduzem ao mínimo e quantas vezes os moradores de um prédio nem se conhecem. Menos comum numa cidade pequena ou de média dimensão, ainda menos numa aldeia ou vila da nossa Beira onde o espírito de comunidade, que se reflete também na solidariedade e no cuidado pelo outro, não é palavra vã. Existe isolamento, os dados conhecidos apontam para um em cada cinco idosos a viver isolado e que não pode ficar esquecido. O programa Idoso em Segurança da GNR tem sido muito importante, com visitas regulares, identificação das necessidades, visando a sua segurança e tranquilidade.
Mas a sociedade portuguesa também está dotada de instituições de solidariedade social (IPSS) que prestam serviços de Centro de Dia e Apoio Domiciliário que são essenciais nesta luta pela qualidade de vida, combate à solidão e abandono no idoso que ainda tem autonomia física e mental para se manter na sua casa. São serviços que passam regularmente por dificuldades económicas, que vivem muito do voluntariado e que pela sua importância social têm de ter a supervisão e apoio acrescido do Estado. Porque acima de tudo, não podemos ver o idoso como fardo da sociedade, como peste grisalha, como um dia lhe chamou um deputado.
Do mesmo problema de isolamento, solidão e sentimento de exclusão social poderia sofrer um grupo de 19 jovens e menos jovens portadores de limitações cognitivas, se não participassem no programa Bioaromas integrado no Centro de Ciência Viva da Floresta de Proença-a-Nova. Passada quinta-feira, com um grupo de amigos tive o prazer de participar numa oficina gastronómico com produtos da floresta, orientada pelo chef Rui Lopes, com a participação ativa deste grupo originário de diversos pontos do Concelho que diariamente (e com visível entusiasmo) se ocupam em tarefas que envolvem a exploração de cultura e embalamento de chás e aromáticas que ali se podem adquirir. As terças e quintas-feiras colaboram na confeção e serviço de refeições com que qualquer um se pode deliciar. É uma atividade desenvolvida no âmbito do projeto Mais Pessoas Mais Ciência Mais Inclusão, em parceria com o Agrupamento de Escolas de Proença-a-Nova e o apoio da Câmara Municipal.
Fiquei conquistado pelo espaço acolhedor, pelos aromas e sabores de uma refeição requintada e sobretudo pela simpatia, alegria e profissionalismo do grupo que merece todo o nosso apoio. Fica a sugestão: terça ou quinta, telefonem para o Centro de Ciência Viva, marquem a vossa refeição, na certeza de que vão ter uma agradável surpresa.