19 novembro 2014

Lopes Marcelo
Ribeiro Sanches, médico e filósofo

Nos dias que correm, quer de origem geral e mais vaga, quer de origem concreta e mais perto de nós, existem certamente várias razões para que se desista do questionamento da nossa História e da nossa Identidade, tão absorvidos, quase esgotados na luta pela sobrevivência. O convite da parte de quem gere o «sistema» é no sentido de que não vale a pena pensar mas, antes, consumir, produzir, consumir e competir no salve-se quem puder. Nas duas últimas décadas o discurso oficial propalou aos quatro ventos que integrados na União Europeia, devíamos ser cada vez mais cosmopolitas, modernos e competitivos. Não poderíamos ser provincianos e pequenos. Antes, devíamos ser ambiciosos, ávidos do que se faz lá fora, ganhar escala, pouco importando o que temos à nossa beira, o nosso território e a nossa tradição. Se fôssemos bons alunos na Europa, se nos subjugássemos às leis do mercado e aos grandes gestores, os recursos não faltariam, designadamente a orientação estratégica e o dinheiro não faltaria. Tantas promessas à volta da bandeira do Euro… E, afinal, cá temos a crise!
Entretanto, muita da nossa capacidade produtiva foi abandonada, uma certa rasoira nas identidades locais foi promovida pelos grandes decisores e políticas centrais. O território é cada vez mais abandonado e os valores e os produtos da nossa matriz cultural estão condenados a uma lenta morte social. É verdade que as Autarquias tentam reagir e procuram contrariar este crítico processo de despovoamento e de desertificação. Contudo, os resultados da acção autárquica embora positivos, não são suficientes para contrariar a dinâmica de ruptura da coesão territorial e social do nosso país. Esta é a realidade que se impõe a quem mantem os olhos abertos.
Quem não caiu no desânimo e ainda não desistiu, encolhendo os ombros ou fechando os olhos à realidade, não pode deixar de retirar como principal lição da crise que é cada vez mais necessário e urgente questionar e repensar a nossa história no sentido dos grandes valores e exemplos do passado. Por outro lado é imperioso e inadiável valorizar o que é nosso, o nosso património, as nossas identidades locais com os valores e os produtos genuínos do nosso artesanato decorativo e produtivo.
Quando refiro a revisitação da nossa história, penso em grandes vultos como, por exemplo, Amato Lusitano, Garcia da Horta e Ribeiro Sanches. Hoje refiro Ribeiro Sanches, grande médico e filósofo do século XVIII. A vida e obra deste grande pensador estenderam-se por toda a Europa do seu tempo. E para além de eminente médico, desenvolveu muitas vertentes do saber que ainda hoje têm actualidade, ensinando e aprendendo, através de uma notável rede de ligações e colaborações com os mais notáveis da cultura de toda a Europa. Estes vultos integrados no notável património de herança judaica, dinamizado pela Rede de Judiarias de Portugal, podem constituir exemplo inspirador para os cinzentos dias da nossa bafienta actualidade. Uma verdadeira política cultural que tivesse no centro das preocupações e objectivos o território e as suas gentes, o conhecer o passado para tornar o presente fecundo e preparar o futuro coerente com a nossa identidade, não deixaria de valorizar estes e certamente outros vultos da nossa história comum.

18/11/2014
 

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