Perguntas com resposta
Na sua mais recente Encíclica, “Frateli Tutti”, o Papa Francisco, reflectindo sobre a caridade e o amor na política, escrevia a propósito dos chamados a desempenhar cargos políticos: “Passados alguns anos, ao reflectir sobre o próprio passado, a pergunta não será “Quantos me aprovaram, quantos votaram em mim, quantos tiveram uma imagem positiva de mim?” As perguntas, talvez dolorosas, serão: “Quanto amor coloquei no meu trabalho? Em que fiz progredir o povo? Que marcas deixei na vida da sociedade? Que laços reais construí? Que forças positivas desencadeei? Quanta paz social semeei? Que produzi no lugar que me foi confiado?”.
Quis a sorte que me desse para ler esta Carta agora, por ocasião do segundo aniversário do nascimento para a Vida Eterna do meu pai, o professor Joaquim Leonardo Martins, que passou toda a nossa vida (minha e do meu irmão) e muitíssimo mais de metade da dele ligado à política, de alguma forma.
Sempre foi um homem de Causas e de convicções bem vincadas, assentes e enraizadas na sua matriz profundamente cristã, que o impedia de se acomodar no seu canto e o impelia a fazer sempre mais e melhor, lutando sem vacilar, ou esmorecer.
Não só na política, mas em todas as causas sociais que abraçou e que foram tantas, da educação à cidadania, da comunicação à cultura, passando pela Igreja, onde sempre serviu.
Sempre sem buscar protagonismos ou reconhecimentos, mas com a certeza da essencialidade de sabermos fazer render os nossos “Talentos” em prol da comunidade.
Percebo agora, à luz das palavras do Papa, muitas das coisas que o ouvia dizer e fazer e reconheço algumas lições que queria que aprendêssemos: “Armemos os nossos filhos com as armas do diálogo! Ensinemos-lhes a boa batalha do encontro!”
Hoje, dois anos depois da sua partida, atrevo-me a responder por ele às perguntas do Papa e constato, com alegria, que as mesmas não são, de todo, dolorosas, mas vivificantes: Colocou todo o seu amor no seu trabalho, trouxe progresso cultural e desportivo à cidade, inspirou à grandeza muitas gerações de jovens, criou e fortaleceu laços com todos quantos se cruzou, através da cultura do respeito, instigou e apoiou inúmeras iniciativas ligadas à literacia, à cultura e à cidadania, semeou (e cuidou que nascesse e crescesse) paz social em todos os projectos que integrou, contribuiu para uma sociedade mais justa, mais livre e mais solidária.
Tocou tanto e tantos, que não partirá jamais…
Desejo, do fundo do coração, conseguir estar à altura do exemplo que me deixou, na minha casa, na minha família, no meu trabalho, na minha paróquia, na minha cidade, no meu país…
E desejo que todos os políticos trabalhem hoje de forma a que um dia, mais tarde, possam responder sem mágoas às inquietantes perguntas deixadas pelo Papa.