Parque Natural do Tejo Internacional comemora 14º aniversário
“Navegação turística e exploração cinegética ilegais colocam em causa património natural”
A associação ambientalista Quercus diz que a fiscalização no Parque Natural do Tejo Internacional (PNTI), é “atualmente deficitária” e “necessita ser significativamente reforçada”.
A associação ambientalista faz, em comunicado, uma retospetiva daquilo que foi feito de “positivo e negativo” naquela área protegida, que comemorou segunda-feira, o 14º aniversário da sua criação.
A Quercus recorda que o PNTI, “é o único local em Portugal onde nidifica o abutre-preto, que esteve extinto mais de 40 anos, tendo regressado a nidificar no nosso país em 2010”.
Neste contexto, volta a reiterar a necessidade de que sejam adotadas medidas de gestão dirigidas para a manutenção e recuperação do património natural existente no PNTI, “incidindo sobretudo no condicionamento da implementação de infraestruturas, sobretudo nos locais de maior sensibilidade, nas limitações à navegação nos troços com a presença de espécies ameaçadas, na recuperação da vegetação autóctone e na realização de ações concretas de conservação direcionadas para as espécies como o abutre-do-Egito, a cegonha-preta e o abutre-preto, entre outras”.
A associação considera “igualmente importante” que se atue sobre a conservação dos diferentes habitats, “apostando na manutenção da tranquilidade dos locais de nidificação e/ou de alimentação, na manutenção e incremento de manchas de montados de sobro e azinho, na manutenção das áreas de matagal mediterrânico e na substituição das áreas de eucaliptal decrépito e improdutivo por montados”.
No documento, a Quercus defende ainda a necessidade de se assegurar “a manutenção das práticas agrícolas e pecuárias tradicionais de carácter extensivo e garantir uma correta gestão cinegética, visando uma exploração equilibrada de espécies presa, como o coelho-bravo e a perdiz, essenciais à manutenção em estado de conservação favorável de muitas espécies ameaçadas”.
A presença de barragens, como a de Monte Fidalgo/Cedillo, concluída em 1974, constitui também segundo a associação ambientalista, “a causa para a degradação da qualidade da água no Rio Tejo que resulta na eutrofização das águas do Rio, com baixa oxigenação aliada às fontes de poluição, nomeadamente, proveniente de esgotos domésticos e agroquímicos utilizados na agricultura provenientes de Espanha”.
O documento refere-se ainda a “outras perturbações”, resultantes da “permissividade à abertura indiscriminada de caminhos e à construção de habitações dispersas ou ainda da navegação fluvial na época de nidificação em troços dos rios Tejo e Ponsul sensíveis sob o ponto de vista de conservação da avifauna rara ou ameaçada que aí se reproduz”.
E, sobre a navegação fluvial, “legalizada” com a alteração levada a cabo no Plano de Ordenamento do PNTI, a associação recorda que esta situação, “levou mesmo a que a Quercus tenha recentemente recorrido à via judicial para impedir que espécies ameaçadas, como a cegonha-preta, possam ser alvo de perturbação durante a época de nidificação”.
Por último, a Quercus diz que se verifica ainda “o abandono de práticas agrícolas tradicionais, que degrada os habitats semi-naturais”, e fala na “gestão deficiente de algumas zonas de caça”, as quais promovem “o uso ilegal de venenos e o abate a tiro de espécies protegidas predadoras das espécies cinegéticas”.
O PNTI foi criado no ano de 2000 e resultou de uma longa luta da Quercus que, desde 1988, tinha vindo a exigir a criação desta área protegida, compromisso aliás que Portugal tinha assumido desde que foi aprovado pela União Europeia o projeto Tejo Internacional no final dos anos 80.
A área do PNTI abrange o vale do troço fronteiriço do Rio Tejo, bem como vales confinantes e zonas aplanadas adjacentes e é uma área de reconhecida importância em termos de conservação da natureza, nomeadamente pelos valores faunísticos que alberga.
Estão inventariadas mais de 200 espécies de vertebrados, destacando-se a presença da lontra, do gato-bravo, do toirão, da cegonha-preta, do abutre-preto, da águia-imperial-ibérica, da águia-real e da águia-de-Bonelli.
Estão, também, identificadas 51 espécies endémicas.
Parte da área do PNTI, por apresentar uma avifauna muito diversificada e ameaçada, veio a ser integrada na Rede Natura 2000 desde 1999, com a criação da Zona de Proteção Especial Tejo Internacional, Erges e Ponsul.